Bismarck não viu vantagens na expansão ultramarina porque a
considerava uma dispersão de forças e a fonte de prováveis conflitos com as
outras Potências colonizadoras. No entanto, acabou por aceitar essa expansão
por duas razões [ALBRECHT-CARRIÉ, 1958, pp. 192-193]: no campo interno, pela
pressão exercida pelos partidários da expansão colonial, e no campo externo,
porque as colónias poderiam ser utilizadas na sua diplomacia europeia. Os
Alemães ocuparam algumas posições em África que viriam a dar origem à chamada
África Oriental Alemã que hoje corresponde, grosso modo, à actual Tanzânia, a
norte de Moçambique. Nesta região surgiram conflitos de interesses entre a
Alemanha e o Reino Unido.
A pretensão dos Alemães em avançarem mais para
o interior até à fronteira do Estado Independente do Congo colidia com os
interesses britânicos que se materializavam na ligação entre o Cabo e o Cairo e
no domínio do vale do Nilo. O projecto de Cecil Rhodes colidia com os
interesses alemães da mesma forma que colidiu com a pretensão portuguesa de
unir os territórios de Angola e Moçambique. No caso português, não havendo
acordo entre respectivos governos, os Britânicos resolveram o problema com o
ultimato de 11 de Janeiro de 1890, mas negociaram com os Alemães e chegaram a
acordo nos termos do já referido Tratado de Heligolândia-Zanzibar de 1 de Julho
de 1890 [http://germanhistorydocs.ghi-dc.org/pdf/eng/606_Anglo-German%20Treaty_110.pdf;
existe um erro no segundo parágrafo do ponto 3. Do Artigo I porque onde se lê
«In Southwest Africa» deve ler-se «In East Africa»].
Mapa de África em 1890. Para visualizar o mapa com mais detalhe, seguir o link de origem: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/2e/Map_of_Africa_from_Encyclopaedia_Britannica_1890.jpg |
Nos termos deste tratado, no Artigo I, era feita a demarcação das
esferas de influência alemã e da Grã-Bretanha na África Oriental. O Artigo II
estabelecia as medidas a serem adoptadas por cada uma destas Potências para a
implementação das linhas de demarcação descritas no artigo anterior. Em seguida
tratava-se da demarcação das esferas de influência da Alemanha e da
Grã-Bretanha no Sudoeste Africano (Artigo III) e na África Ocidental (Artigo
IV). Nos artigos seguintes tratavam-se questões relativas à implementação do
tratado, ao estabelecimento de um protectorado britânico em Zanzibar (Artigo
XI) e da cedência do arquipélago de Heligolândia à Alemanha (Artigo XII).
Este tratado permitiu manter uma situação estabilizada na região das
nascentes do Nilo. O Reino Unido obteve pela diplomacia, não sendo necessário o
emprego da força militar, Zanzibar e o conjunto de territórios que correspondem
ao Quénia e ao Uganda. O facto de para a Alemanha ser muito importante ganhar a
amizade da Inglaterra contribuiu para o sucesso das negociações. Este tratado
foi o primeiro de uma série de acordos que permitem partilhar África. Sobre
muitos dos territórios que foram então repartidos, conhecia-se pouco e os
acordos de partilha referiam frequentemente acidentes do terreno ou cursos de
água cuja localização não era inteiramente conhecida, por vezes nem havia a
certeza da sua existência. Uma das consequências mais graves deste procedimento
foi o facto de serem traçadas fronteiras de acordo com os critérios das
potências ocidentais e sem olharem aos interesses dos povos africanos.
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