Após o ultimatum britânico de 1890, Portugal e
o Reino Unido chegaram a um acordo diplomático. O ultimatum surgiu sob a forma de um memorando enviado pelo Governo
britânico a 11 de Janeiro de 1890, apesar de vários acordos celebrados entre os
dois países sobre as respectivas colónias. A desproporção das forças entre
Portugal e o Reino Unido resolveu o diferendo relativo à questão do “Mapa
cor-de-rosa”. Portugal foi obrigado a ceder e a 20 de Agosto de 1890 foi
assinado um acordo que nunca chegou a ser ratificado. Realizaram-se novas
negociações e concluiu-se um tratado que foi assinado a 11 de Junho de 1891 e
ratificado a 27 de Junho. Este tratado definia fronteiras e zonas de influência
portuguesas e britânicas assim como estipulava as condições para o tráfego de
pessoas e bens nos rios Zambeze e Chire. No entanto, este Tratado não garantia
a integridade das colónias portuguesas.
1891 foi
também o ano de uma grave crise económica e financeira em Portugal. Esta
situação obrigou o Governo português a suspender o pagamento dos juros da sua
dívida externa. O pico do peso da dívida pública, em percentagem do PIB,
ocorreu no ano fiscal de 1892-1893 (124,3%). 0 Decreto de 13 de Junho de 1892,
ratificado pela Lei de 25 de Maio de 1893, suspendeu parcialmente o pagamento
dos encargos da dívida externa. Esta situação de suspensão parcial de
pagamentos durou até 1902. A crise política agravava
a crise financeira. As amortizações da dívida estavam atrasadas. «O ministro
alemão em Lisboa, Conde de Tattenbach, fazia pressão sobre o governo e tentava
levar outras potências a uma demonstração naval no Tejo, idêntica à que a
Alemanha, Inglaterra e Itália fizeram para a Venezuela.»
As
dificuldades económicas e financeiras de Portugal arrastaram-se apesar dos
esforços desenvolvidos pelos seus governantes. Quando foi necessário recorrer a
um novo empréstimo externo, foram iniciadas negociações com o Governo britânico
que decorreram em 1897 e 1898. O empréstimo foi negociado em condições que
implicavam «a garantia, por parte da Inglaterra, da defesa de Portugal
contra-ataques externos nas suas colónias, com reserva de opção, caso Portugal
quisesse alienar qualquer território.» Tais condições
poderiam proporcionar grandes benefícios ao Reino Unido e, por isso, a Alemanha
mostrou de imediato a sua oposição. As negociações foram canceladas por ordem
de D. Carlos, mas Portugal não negociou o empréstimo com a Alemanha.
As grandes colónias portuguesas em África - Angola e Moçambique - objecto da cobiça alemã e britânica (https://pt.wikipedia.org/wiki/Imp%C3%A9rio_Portugu%C3%AAs#/media/Ficheiro:Mapa_Cor-de-Rosa.jpg) |
Atendendo à
posição que as colónias portuguesas de Angola e Moçambique ocupavam, fazendo fronteira
com colónias britânicas e alemãs, ambas as Potências com intenções
expansionistas embora em campos antagónicos e atendendo às graves crises
económicas e financeiras de Portugal, onde chegou a ser levantada a hipóteses
de alienação das colónias a fim de pagar a dívida, o Reino Unido e a Alemanha
concordaram em definir entre si as respectivas zonas de influência nos
territórios portugueses. As conversações que se seguiram permitiram ao Reino
Unido e à Alemanha chegarem a um acordo. Este foi assinado a 30 de Agosto de
1898, em Londres, pelos representantes britânico e alemão. Este acordo foi
mantido secreto no seu conteúdo, mas a sua existência foi dada a conhecer ao
embaixador português em Londres.
O Acordo
Anglo-Alemão de 30 de Agosto de 1898 estava inscrito em três documentos:
- A primeira Convenção estipulava que um empréstimo feito a Portugal deveria ser comum ao Reino Unido e à Alemanha e teria como garantia os rendimentos das alfândegas de Angola, Moçambique e Timor; também estipulava que ao Reino Unido caberiam as alfândegas da parte de Moçambique a sul do rio Zambeze e a parte norte de Angola; à Alemanha caberiam as alfândegas da parte meridional de Angola, a região de Moçambique a norte do Zambeze e Timor.
- A segunda Convenção, secreta, regulava a atitude a assumir pelo Reino Unido e pela Alemanha nas regiões mencionadas na primeira Convenção, no caso de Portugal não cumprir as obrigações da dívida. Ao verificar-se esta situação, as colónias indicadas passariam para o reino Unido e para a Alemanha e, sendo assim, aquelas eram consideradas desde logo como respectivas zonas de influência.
- Uma nota secreta sobre concessões nas esferas de influência. A nota esclarecia que «qualquer vantagem obtida do Governo português por uma das Potências na sua esfera de influência deveria logo ser acompanhada por vantagem análoga para a outra Potência na esfera que lhe era reservada.
Este acordo,
pelos seus termos, dava como adquirida a incapacidade de Portugal honrar as
suas obrigações relativamente aos seus empréstimos. Por outro lado, ao colocar
a esfera de influência da Alemanha, em Moçambique, a norte do Zambeze, impediu
os Alemães de apoiarem os Bóeres no Transval durante a Segunda Guerra dos
Bóeres. Para Portugal era importante, perante este acordo, procurar outra fonte
de financiamento e relembrar ao Reino Unido as responsabilidades que lhe competiam
nos termos dos acordos estabelecidos com Portugal. A Segunda Guerra dos Bóeres
proporcionou ao Governo português a oportunidade para uma contra-ofensiva
diplomática dado que o Reino Unido necessitava fazer passar tropas e
abastecimentos pelos portos portugueses, especialmente por Lourenço Marques
(Maputo). Em Portugal, a opinião pública mostrava-se, no entanto, «francamente
pró-bóer, conservando os sentimentos anti-britânicos suscitados pelo ultimatum.»
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