Algeciras é
uma cidade portuária no sul de Espanha, localizada perto de Gibraltar. Foi
nessa cidade que decorreu, entre 16 de Janeiro e 7 de Abril de 1906, a
Conferência destinada a tratar da questão marroquina. A localização geográfica
pesou na escolha de Algeciras porque esta cidade encontrava-se perto de Tânger.
A Conferência não se realizou nesta cidade marroquina porque a instabilidade em
Marrocos não o aconselhava. Os países que participaram na Conferência foram os
mesmos que já tinham estado presentes na Conferência de Madrid de 1880: Reino
Unido, Alemanha, Áustria-Hungria, Bélgica, Espanha, Estados Unidos da América,
França, Itália, Marrocos, Países Baixos, Portugal, Rússia e Suécia.
Bülow e
Holstein queriam mais que a demissão de Délcassé. Queriam impedir a França de
transformar Marrocos num protectorado e queriam destruir a Entente Cordiale.
Para atingirem estes objectivos, era necessário internacionalizar a questão de
Marrocos. A Alemanha propôs, por isso, uma conferência internacional sobre
Marrocos e, para forçar o Governo francês a aceitá-la, o embaixador alemão em
Paris, no dia 10 de Junho de 1905, tinha deixado claro a Rouvier que «se a
França tentar alterar por qualquer forma o status
de Marrocos, a Alemanha apoiará o Sultão com todas as suas forças.» Na realidade, o Chanceler alemão sabia que a opinião pública
alemã não aceitaria uma guerra por causa de Marrocos. A 28 de Setembro, a França
e a Alemanha chegaram a acordo sobre a agenda da conferência.
A
conferência foi realizada em 18 sessões durante as quais duas grandes questões
estiveram na ordem do dia: a criação de um banco internacional em Marrocos e a
organização da polícia nas principais cidades portuárias. O controlo da polícia
era particularmente importante porque permitia controlar Marrocos. Por esta
razão, os Alemães insistiram que a força de polícia devia ser
internacionalizada, mas os Franceses opuseram-se e preferiram apoiar uma
polícia marroquina. No dia 1 de Março, enquanto decorria a conferência, as
frotas britânicas do Mediterrâneo e do Atlântico, vinte couraçados, dúzias de
cruzadores e de contratorpedeiros, quase centena e meia de navios, numa forte
demonstração de poder naval, aproximaram-se do porto de Gibraltar. Os delegados
na Conferência foram convidados a jantar a bordo do navio almirante, o HMS King Edward VII.
Em
Algeciras, a Alemanha obteve o contrário do que pretendia. Em vez de destruir a
Entente Cordiale, provocou uma maior
aproximação entre a França e o Reino Unido. A Entente Cordiale foi reforçada. A atitude na Alemanha, da opinião
pública e do Reichstag, foi de
desânimo, o que não impediu Bülow de defender a sua política. «O tratado pode
não nos ter dado tudo o que desejávamos», mas «representa o essencial do que
nos tínhamos esforçado por obter. Reafirmou a soberania do Sultão … a França
não obteve o protectorado que desejava … permanecemos inabaláveis em defesa do
princípio de Porta Aberta … a tentativa para nos excluírem de uma grande
decisão internacional foi frustrada com sucesso.»
A Acta Geral
da Conferência de Algeciras estava dividida em seis capítulos que englobavam
cento e vinte e três artigos [Texto completo, em francês, da acta da
Conferência de Algeciras em https://web.archive.org/web/20150919070809/http://www.historicaltextarchive.com/print.php?action=section&artid=28#]:
- Uma declaração relativa à organização da polícia;
- Um Regulamento respeitante à vigilância e repressão do contrabando de armas;
- Uma Acta de Concessão de um Banco do Estado Marroquino;
- Uma declaração respeitante a um melhor desempenho do sistema fiscal e à criação de novas receitas;
- Um Regulamento sobre as Alfândegas do Império e a repressão da fraude e do contrabando;
- Uma Declaração relativa aos Serviços Públicos e aos Trabalhos Públicos.
A polícia
ficou colocada sob a autoridade do Sultão (Artigo 2), mas a Espanha e a França
iriam disponibilizar oficiais e sargentos instrutores (Artigo 3) e eles
deveriam «assegurar a instrução e a disciplina, em conformidade com o
Regulamento que será estabelecido sobre a matéria; verificarão de igual forma
para que os homens alistados possuam aptidão para o serviço militar. De uma
forma geral, eles deverão supervisar a administração das tropas» (Artigo 4).
Para o desempenho destas funções seria necessária a presença de 16 a 20
oficiais e 30 a 40 sargentos franceses e espanhóis (Artigo 5) todos pagos pelo
Tesouro de Marrocos (Artigo 6). A inspecção geral da Polícia ficaria a cargo de
um oficial superior do Exército Suíço (Artigo 7). «O quadro de Instrutores da
Polícia Chérifienne (oficiais e
sargentos) será espanhol em Tétuan, misto em Tânger, espanhol em Larache,
francês em Rabat, misto em Casablanca e francês nos outros três portos» (Artigo
12).
O segundo
ponto importante a tratar na Conferência ficou expresso no Capítulo III: «Será
instituído em Marrocos um banco com o nome de “Banco do Estado de Marrocos”,
para exercer os direitos a seguir especificados, cuja concessão será outorgada
por Sua Majestade o Sultão, durante um período de quarenta anos a partir da
ratificação da presente Acta» (Artigo 31) e este banco «desempenhará, com
exclusão de qualquer outro banco ou estabelecimento de crédito, as funções de Trésorier-Payeur do Império» (Artigo
33). «O capital inicial do banco será dividido em tantas partes iguais quantas
as partes interessadas entre as Potências representadas na Conferência e, para
isso, cada Potência designará um Banco, que exercerá, seja para si ou para um
grupo de bancos, o direito de subscrição especificado acima, bem como o direito
de nomeação dos Administradores» (Artigo 56). A segurança e as finanças
marroquinas ficavam inteiramente dependentes das outras Potências. Os Franceses não conseguiram ter uma
influência preponderante no banco cuja criação estava a ser preparada, mas
puderam exercer uma influência determinante sobre a organização da polícia nos
portos de Marrocos.
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