A Guerra
Russo-Japonesa teve início a 8 de Fevereiro de 1904 e terminou a 5 de Setembro
de 1905 com a derrota da Rússia. Esta guerra envolveu os teatros de operações
da Manchúria, da Coreia e do Pacífico Norte. No início da guerra, o Japão era
considerado um pequeno país, pouco conhecido no Ocidente, que tinha cometido a
imprudência de desafiar a Rússia, uma das cinco Grandes Potências europeias.
Depois da guerra, encontramos uma Rússia derrotada, humilhada, a braços com uma
revolução interna, e um Japão vitorioso, embora com graves problemas
financeiros causados pela guerra, uma Potência com grandes ambições
imperialistas.
O Japão já
tinha mostrado o seu valor militar ao derrotar a China na Primeira Guerra
Sino-Japonesa (1 de Agosto de 1894 a 17 de Abril de 1895). Após esta guerra, a
China e a Rússia estabeleceram uma aliança que garantia ao czar o direito de
lançar uma linha férrea através da Manchúria que ligasse Vladivostok a Porto
Artur e, por isso, controlar uma extensa faixa de território chinês. Em 1898, a
Rússia instalou uma base militar naval em Porto Artur. Com a frota russa
estacionada em Porto Artur e o seu (russo) exército a ocupar a península de
Liaotung, os Japoneses tiveram a percepção de que seria uma questão de tempo até
os Russos avançarem para ocuparem a Península da Coreia. Sendo assim, começaram
a melhorar o seu exército e a sua marinha de guerra.
Representação de um combate entre forças russas (à esquerda) e japonesas (à direita). A imagem pode ser vista em tamanho grande em https://ukiyo-e.org/image/mfa/sc131768 |
As forças
navais japonesas eram superiores ao conjunto das forças navais russas
disponíveis na região. O poder naval da Rússia no Extremo Oriente consistia em
7 velhos navios de guerra, 9 cruzadores, 25 contratorpedeiros e cerca de 30
outras embarcações de menor dimensão. Em Fevereiro de 1904, a frota principal
encontrava-se em Porto Artur, dois cruzadores em Chemulpo (Inchon) na Coreia e
outros quatro em Vladivostok, imobilizados pelo gelo. A força naval japonesa
consistia em 6 navios de guerra recentemente renovados, 8 cruzadores, 25
cruzadores ligeiros, 19 contratorpedeiros, 85 barcos torpedeiros e mais 16
embarcações de menor dimensão. A marinha japonesa tinha sido desenvolvida com o
apoio de uma missão naval britânica e parte importante dos seus navios eram de
origem britânica. O poder naval russo em 1900 (medido em tonelagem) era de
383.000 contra 187.000 do Japão, mas a Rússia tinha a
sua marinha de guerra concentrada em quatro frotas: Frota do Báltico, Frota do
Norte, Frota do Mar Negro e Frota do Pacífico.
Os efectivos
disponíveis para o exército dependem da população sobre a qual é feito o recrutamento.
Em 1900, a Rússia tinha cerca de 135.600.000 de habitantes e o Japão não mais
que 43.800.000. Em 1904 estes números eram superiores, mas com uma proporção
semelhante. Apesar de terem uma população menos
numerosa, os Japoneses podiam rapidamente colocar no terreno as suas forças
terrestres com um efectivo de 280.000 homens e podiam enviar um reforço de
400.000 reservistas bem treinados. No início da guerra os Russos dispunham no
Extremo Oriente 100 batalhões de infantaria, 30 baterias de artilharia e 75
esquadrões de cavalaria. Os Japoneses podiam empenhar de imediato 156
batalhões, 106 baterias e 54 esquadrões, sendo esta a arma em que se
apresentavam mais fracos.
O problema
dos Japoneses era transportar as suas forças entre o Arquipélago Nipónico e o
Continente Asiático e assegurar uma testa de ponto suficientemente ampla e
segura para permitir o desembarque das suas unidades militares e garantir as
operações logísticas necessárias. Para tal seria necessário garantir a
supremacia naval na região o que exigia iniciativa e surpresa, condições que o
Japão garantiu lançando um ataque seguido de um bloqueio à esquadra russa
fundeada em Porto Artur sem previamente ter declarado guerra à Rússia [A declaração
de guerra é uma prática que se tornou obrigatória nos termos da Convenção (III)
relativa à Abertura das Hostilidades, Haia, 18 de Outubro de 1907. A Convenção foi assinada pelo representante
Japonês, mas apenas foi ratificada a 13 de Dezembro de 1911 [Texto completo em https://ihl-databases.icrc.org/ihl/INTRO/190?OpenDocument ou http://avalon.law.yale.edu/20th_century/hague03.asp. Visto em 2019-05-16].
Os Russos
tinham um problema diferente: a extensão da sua linha de comunicações. O
transporte de pessoal e dos abastecimentos para o exército russo no Extremo
Oriente era feito através de uma linha férrea, de via simples, com uma extensão
de 8.850 Km entre Moscovo e Porto Artur. Os comboios tinham de esperar, em
locais específicos da linha, pelos que transitavam em sentido oposto, o que
tornava o trânsito lento e reduzia a capacidade de transporte desta
infraestrutura. Estas dificuldades faziam com que o efectivo das forças
militares russas no Extremo Oriente não ultrapassasse os 140.000 homens e mesmo
assim o seu abastecimento seria feito com limitações.
No dia 8 de
Fevereiro de 1904, os Japoneses lançaram um ataque naval de surpresa sobre a
frota fundeada em Porto Artur e teve início o bloqueio do porto que durou até
ao dia 2 de Janeiro de 1905 quando a guarnição do porto se rendeu. Todas as
tentativas feitas pelas tropas e marinha russas para romperem o bloqueio
resultaram em fracasso. No segundo dia das hostilidades foram afundados dois
navios russos ancorados no porto de Chemulpo (Inchon), na Coreia. Foi aí que
desembarcaram as primeiras tropas japonesas (12ª Divisão de Infantaria). Os
Russos retiraram da Coreia e sofreram sucessivas derrotas na Manchúria. A
Batalha de Mukden (21 de Fevereiro a 10 de Março de 1905) foi a última batalha
terrestre travada entre as forças das duas Potências. Os Russos foram obrigados
a recuar para não verem cortada a sua linha de comunicações, mas fizeram-no em
boa ordem. Nesta altura, cada um dos contendores tinha no terreno mais de
300.000 homens.
A 27 de Maio de 1905 foi travada a Batalha Naval de Tsushima,
uma vitória decisiva do Japão. Os Japoneses perderam três torpedeiros, mas
afundaram 21 navios russos. As baixas japonesas foram de 117 mortos e 583
feridos, mas os Russos sofreram 4.380 mortos e viram capturados quase seis mil
dos seus homens. Os Russos perderam nesta batalha parte da Frota do Báltico que
tinha sido enviada para formar a Segunda Frota do Pacífico. O Japão, um pequeno
país, pouco conhecido no Ocidente, tinha derrotado uma das cinco Grandes
Potências europeias.
Almirante Tōgō Heihachirō, comandante das forças navais japonesas na Batalha de Tushima [https://en.wikipedia.org/wiki/T%C5%8Dg%C5%8D_Heihachir%C5%8D#/media/File:Togo_Heihachiro_in_uniform.jpg] |
Com
crescentes dificuldades em continuar a guerra devido à contestação interna, a
Rússia aceitou participar numa conferência em Portsmouth, New Hampshire, a fim
de negociar com o Japão os termos da paz, com mediação do Presidente dos EUA,
Theodore Roosevelt (1858-1919). O Japão, com dificuldades financeiras devido ao
esforço de guerra, concordou em participar na conferência que decorreu de 9 a
29 de Agosto de 1905. No dia 5 de Setembro foi assinado o Tratado de Paz de
Portsmouth. Foi reconhecida a conquista da Coreia pelo Japão, que também ganhou
o controlo da Península de Liaotung e de Porto Artur, da metade sul da ilha de
Sacalina e da linha férrea no sul da Manchúria que conduzia a Porto Artur que
teve de ser abandonada pela Rússia.
O Governo do
Czar estava a aproximar-se do fim. A má gestão da guerra, tanto pelos
governantes como pelos generais, o seu elevado custo em recursos humanos e
financeiros, encorajou os movimentos radicais em Moscovo e São Petersburgo que
começaram a defender uma revolução. A revolta de 1905, que o Governo russo
suprimiu, lançou as bases da Revolução de 1917, também esta lançada contra uma
guerra que estava a ser perdida. Do lado do Japão, a vitória foi recebida com
alguma crítica pela opinião pública que acreditava que o Japão merecia mais
compensações de guerra, mas também incentivou a que fosse utilizado o poder
militar para, na Manchúria ou outras regiões, fosse garantido o acesso a
matérias primas que a industrialização exigia e que não existiam no seu
território.
Pela
primeira vez na História Moderna, um país asiático derrotava uma Potência
europeia. Em África, os Italianos tinham sofrido uma humilhante derrota frente
às tropas da Etiópia, na Batalha de Adwa, a 1 de Março de 1896, mas os Etíopes
tinham uma superioridade numérica de 5 para 1. Mas o mais importante desta
guerra é que ela constituiu uma antevisão do iria acontecer na Primeira Guerra
Mundial. As frentes de batalha eram extensas, as batalhas prolongaram-se por
alguns dias e foram amplamente utilizadas trincheiras, metralhadoras,
morteiros, granadas, minas terrestres e navais, arame farpado, tiro indirecto
de artilharia, transmissões rádio e até actividades de uma verdadeira guerra
electrónica. Em ambos os lados existiam observadores ocidentais que reportaram
para os seus exércitos o que puderam observar. Segundo estes observadores, o
soldado russo era corajoso e com elevado espírito de sacrifício, mas os seus
oficiais mostraram-se incapazes de desempenharem as funções para que tinham
sido nomeados. Sobre os militares japoneses referiram a sua excelente preparação
e o seu sentido do dever que atingia o nível do fanatismo.
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