domingo, 27 de abril de 2025

O "Explêndido Isolamento" britânico

A estratégia adotada pelo Reino Unido relativamente às demais Potências europeias caracterizava-se por uma participação no sistema europeu reduzida ao mínimo possível. Os Britânicos referiam-se ao seu país como o fiel da balança da Europa impedindo que qualquer coligação de Potências se tornasse dominante. O carácter insular da Grã-Bretanha conferia-lhe uma grande vantagem defensiva porque qualquer inimigo só podia atacar as Ilhas Britânicas atravessando o mar. Para o fazer, a potência agressora teria de possuir recursos navais suficientes para manter afastada a marinha de guerra britânica, a Royal Navy, e transportar a força invasora.

O Exército Britânico era o mais pequeno entre os exércitos das Grandes Potências europeias. Apenas em 1905 foi registada uma força superior a 200.000 homens. Nesta data, a Alemanha dispunha de um exército três vezes mais numeroso. Qualquer uma das Grandes Potências ou, mais ainda, qualquer coligação delas dispunha de uma força terrestre muito mais numerosa que a força britânica. No entanto, enquanto o Reino Unido mantinha um sistema de voluntariado que lhe conferia um elevado grau de profissionalismo, as restantes Grandes Potências formavam os seus exércitos à custa de sistemas de serviço militar obrigatório, com duração limitada, mas que lhes proporcionava um número elevado de reservistas que podiam ser rapidamente mobilizados e atualizados para o cumprimento das suas obrigações militares.

No que respeita aos recursos navais, a situação era inversa da que se passava com os recursos terrestres. O Reino Unido dispunha da maior armada do mundo. Só assim podia impedir que alguma força inimiga desembarcasse nas Ilhas Britânicas, e só com o seu grande poder naval podia garantir a segurança das rotas marítimas para os vastos domínios do seu Império. Quando comparamos o poder naval das Grandes Potências da época, constatamos que a força naval britânica, avaliada em tonelagem, é sempre superior às outras duas maiores forças navais então existentes e que essa tendência se acentuou ao longo dos anos apesar do enorme esforço de construção naval feito pela Alemanha.

 

Tabela 1 - Tonelagem do poder naval

1880

1890

1900

1910

1914

Reino Unido

650.000

679.000

1.065.000

2.174.000

2.714.000

França

271.000

319.000

499.000

725.000

900.000

Rússia

200.000

180.000

383.000

401.000

679.000

Estados Unidos da América

169.000

240.000

333.000

824.000

985.000

Itália

100.000

242.000

245.000

327.000

498.000

Alemanha

88.000

190.000

285.000

964.000

1.305.000

Áustria-Hungria

60.000

66.000

87.000

210.000

372.000

Japão

15.000

41.000

187.000

496.000

700.000

 

O que acima foi dito sobre os exércitos, não teve em linha de conta as tropas coloniais. Os Franceses dispuseram de tropas africanas de diversas origens. O Reino Unido contava com as numerosas tropas indianas e as bem preparadas forças australianas, neozelandesas e canadianas. A África do Sul, após a resolução dos seus problemas com o Reino Unido, também forneceu forças militares importantes.

Da mesma forma, a dimensão da marinha britânica procurava estar ajustada não apenas à defesa da Grã-Bretanha, mas também à manutenção do Império que cada vez mais se encontrava sob pressão das outras Potências. Kissinger explica-nos que «embora a França, a Alemanha e a Rússia estivessem frequentemente em conflito umas com as outras no Continente, elas sempre entraram em confronto com a Grã-Bretanha no ultramar. Apesar de a Grã-Bretanha possuir não só a Índia, Canadá e uma vasta porção de África, ainda insistia em dominar vastos territórios que, por razões estratégicas, desejava impedir que caíssem nas mãos de outra Potência embora não procurasse controlar diretamente esses territórios. […] Essas áreas incluíam o Golfo Pérsico, a China, a Turquia e Marrocos. Durante a década de 1890, a Grã-Bretanha viu-se envolvida em confrontos sem fim com a Rússia no Afeganistão, à volta dos Estreitos e no Norte da China, e com a França no Egipto e em Marrocos.»

Convinha, assim, ao Reino Unido que não se formasse uma coligação de outras potências que pusesse em perigo um equilíbrio que lhe era favorável. Era este isolamento que lhe permitia ser o fiel da balança do equilíbrio europeu e, em alguns casos, noutras partes do mundo. Historicamente, esta tem sido uma característica predominante nas relações internacionais. Um exemplo clássico é o Tratado de Vestfália (1648), que pôs fim à Guerra dos Trinta Anos e estabeleceu princípios para manter a paz na Europa através de um equilíbrio de poder. No final do século XIX, a Tríplice Aliança (Alemanha, Áustria-Hungria e Itália) e Aliança Franco-Russa foram formadas para equilibrar o poder entre as nações europeias. O Reino Unido defendeu sempre a França contra a Alemanha e a Rússia, depois dos acordos 1907, mas esses acordos, tanto com a Rússia como com a França, não tomaram uma forma mais vinculativa que uma Entente. Ao fazê-lo, o Reino Unido esperava continuar a manter a sua posição de fiel da balança do equilíbrio europeu, embora a política alemã após a saída de Bismarck, tornassem a política britânicas mais defensiva relativamente à Alemanha.

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