A estratégia adotada pelo Reino Unido relativamente às demais Potências europeias caracterizava-se por uma participação no sistema europeu reduzida ao mínimo possível. Os Britânicos referiam-se ao seu país como o fiel da balança da Europa impedindo que qualquer coligação de Potências se tornasse dominante. O carácter insular da Grã-Bretanha conferia-lhe uma grande vantagem defensiva porque qualquer inimigo só podia atacar as Ilhas Britânicas atravessando o mar. Para o fazer, a potência agressora teria de possuir recursos navais suficientes para manter afastada a marinha de guerra britânica, a Royal Navy, e transportar a força invasora.
O Exército Britânico era o mais pequeno entre os exércitos
das Grandes Potências europeias. Apenas em 1905 foi registada uma força
superior a 200.000 homens. Nesta data, a Alemanha dispunha de um exército três
vezes mais numeroso. Qualquer uma das Grandes Potências ou, mais ainda,
qualquer coligação delas dispunha de uma força terrestre muito mais numerosa
que a força britânica. No entanto, enquanto o Reino Unido mantinha um sistema de
voluntariado que lhe conferia um elevado grau de profissionalismo, as restantes
Grandes Potências formavam os seus exércitos à custa de sistemas de serviço
militar obrigatório, com duração limitada, mas que lhes proporcionava um número
elevado de reservistas que podiam ser rapidamente mobilizados e atualizados
para o cumprimento das suas obrigações militares.
No que respeita aos recursos navais, a situação era inversa
da que se passava com os recursos terrestres. O Reino Unido dispunha da maior
armada do mundo. Só assim podia impedir que alguma força inimiga desembarcasse
nas Ilhas Britânicas, e só com o seu grande poder naval podia garantir a
segurança das rotas marítimas para os vastos domínios do seu Império. Quando
comparamos o poder naval das Grandes Potências da época, constatamos que a
força naval britânica, avaliada em tonelagem, é sempre superior às outras duas
maiores forças navais então existentes e que essa tendência se acentuou ao
longo dos anos apesar do enorme esforço de construção naval feito pela
Alemanha.
Tabela 1 - Tonelagem do poder naval
1880 |
1890 |
1900 |
1910 |
1914 |
|
Reino
Unido |
650.000 |
679.000 |
1.065.000 |
2.174.000 |
2.714.000 |
França |
271.000 |
319.000 |
499.000 |
725.000 |
900.000 |
Rússia |
200.000 |
180.000 |
383.000 |
401.000 |
679.000 |
Estados Unidos da América |
169.000 |
240.000 |
333.000 |
824.000 |
985.000 |
Itália |
100.000 |
242.000 |
245.000 |
327.000 |
498.000 |
Alemanha |
88.000 |
190.000 |
285.000 |
964.000 |
1.305.000 |
Áustria-Hungria |
60.000 |
66.000 |
87.000 |
210.000 |
372.000 |
Japão |
15.000 |
41.000 |
187.000 |
496.000 |
700.000 |
O que acima foi dito sobre os exércitos, não teve em linha
de conta as tropas coloniais. Os Franceses dispuseram de tropas africanas de
diversas origens. O Reino Unido contava com as numerosas tropas indianas e as
bem preparadas forças australianas, neozelandesas e canadianas. A África do Sul,
após a resolução dos seus problemas com o Reino Unido, também forneceu forças
militares importantes.
Da mesma forma, a dimensão da marinha britânica procurava
estar ajustada não apenas à defesa da Grã-Bretanha, mas também à manutenção do
Império que cada vez mais se encontrava sob pressão das outras Potências.
Kissinger explica-nos que «embora a França, a Alemanha e a Rússia estivessem
frequentemente em conflito umas com as outras no Continente, elas sempre
entraram em confronto com a Grã-Bretanha no ultramar. Apesar de a Grã-Bretanha
possuir não só a Índia, Canadá e uma vasta porção de África, ainda insistia em
dominar vastos territórios que, por razões estratégicas, desejava impedir que
caíssem nas mãos de outra Potência embora não procurasse controlar diretamente
esses territórios. […] Essas áreas incluíam o Golfo Pérsico, a China, a Turquia
e Marrocos. Durante a década de 1890, a Grã-Bretanha viu-se envolvida em
confrontos sem fim com a Rússia no Afeganistão, à volta dos Estreitos e no
Norte da China, e com a França no Egipto e em Marrocos.»
Convinha, assim, ao Reino Unido que não se formasse uma
coligação de outras potências que pusesse em perigo um equilíbrio que lhe era
favorável. Era este isolamento que lhe permitia ser o fiel da balança do
equilíbrio europeu e, em alguns casos, noutras partes do mundo. Historicamente,
esta tem sido uma característica predominante nas relações internacionais. Um
exemplo clássico é o Tratado de Vestfália (1648), que pôs fim à Guerra dos
Trinta Anos e estabeleceu princípios para manter a paz na Europa através de um
equilíbrio de poder. No final do século XIX, a Tríplice Aliança (Alemanha,
Áustria-Hungria e Itália) e Aliança Franco-Russa foram formadas para equilibrar
o poder entre as nações europeias. O Reino Unido defendeu sempre a França
contra a Alemanha e a Rússia, depois dos acordos 1907, mas esses acordos, tanto
com a Rússia como com a França, não tomaram uma forma mais vinculativa que uma Entente.
Ao fazê-lo, o Reino Unido esperava continuar a manter a sua posição de fiel da
balança do equilíbrio europeu, embora a política alemã após a saída de Bismarck,
tornassem a política britânicas mais defensiva relativamente à Alemanha.
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