Após a Guerra
Franco-Prussiana de 1870-1871, a França desenvolveu a sua política colonial e
criou o segundo maior império colonial do mundo. Esta decisão não foi pacífica
porque, em matéria de política estrangeira, o debate centrava-se nas regiões
perdidas em 1870, e este debate dividiu a França. De um lado, colocavam-se os
grupos e as personalidades que defendiam a política de revanche e, desse modo,
a recuperação dos territórios da Alsácia-Lorena. Este era um projeto impossível
para uma França isolada, mas para esta fação, o esforço a despender numa
expansão ultramarina era um erro porque consumia recursos essenciais ao seu
objetivo, o de repor as fronteiras anteriores a 1870. Tratava-se de defender
para a França um papel essencialmente continental. Do outro lado,
encontravam-se os que consideravam a revanche irrealista e defendiam que a
França devia apostar na expansão ultramarina para recuperar o seu prestígio e a
sua posição de Grande Potência na cena internacional. Para estes, a expansão
ultramarina poderia funcionar como compensação pelos danos territoriais e
morais causados pela guerra de 1870-1871.
Não foram os
meios financeiros ou económicos que exerceram pressão para alargar a expansão
ultramarina. Ao contrário do que se passava na Grã-Bretanha, a indústria
francesa não estava desenvolvida ao ponto de necessitar dos mercados externos
para se manter ou desenvolver. Também não existia uma pressão demográfica. Em
1872, a França contava com pouco mais de trinta e seis milhões de habitantes e,
até 1891, cresceu à volta de dois milhões. Este foi um dos crescimentos mais
baixos da Europa. Já a Alemanha tinha, em 1871, cerca de quarenta e um milhões
de habitantes e, até 1890, cresceu mais de oito milhões. No entanto, foi
desenvolvida uma política ultramarina francesa.
Charles
Freycinet (1828-1923), primeiro-ministro por quatro vezes entre 1879 e 1892,
Jules Ferry (1832-1893), primeiro-ministro por duas vezes entre 1880 e 1885,
Léon Gambetta (1838-1882), primeiro-ministro por um curto período entre
novembro de 1881 e janeiro de 1882, o almirante Jean Jauréguiberry (1815-1887)
ministro da Marinha e das Colónias, por duas vezes entre 1879 e 1883, foram os
grandes impulsionadores da expansão ultramarina, em especial Jules Ferry, «o
arquiteto da expansão colonial francesa, mas também um dos teóricos do
imperialismo moderno.» Léon Gambetta defendeu que a França podia recuperar a
Alsácia-Lorena por troca com algumas colónias. Pierre Paul Leroy-Beaulieu
(1843-1916) publicou a sua obra De la colonisation chez les peuples modernes,
na qual defendia que era necessário passar da emigração de pessoas - a que os
franceses nunca aderiram em número significativo: 236.000 entre 1871 e 1900,
menos de metade da emigração em Portugal em igual período - para a emigração de
capitais, defendendo o investimento nos territórios ultramarinos.
Em 1885, Jules
Ferry enunciou três motivos para justificar a política colonial de França. Um
motivo económico, baseado nas teses de Leroy-Beaulieu, defendendo que «a
primeira função económica de uma colónia era ser um mercado para os produtos
manufaturados da metrópole.» Foi enunciado também um motivo humanitário, em
termos que hoje seriam inaceitáveis, mas próprios da época: «as raças
superiores deverão civilizar as raças inferiores.» O motivo político era, para
Ferry, o mais importante: a perda da Alsácia-Lorena e a impossibilidade de a
recuperar num futuro próximo não significava que a França devesse ficar inativa
à espera de melhores dias. Essa inatividade no campo das relações
internacionais só poderia acarretar decadência e, por isso, era preciso agir e
a expansão ultramarina oferecia essa oportunidade.
Quando terminaram as Guerras Napoleónicas (1815) pouco restava do antigo império colonial francês, para além de algumas ilhas e feitorias ao longo da costa africana e da costa indiana. Em 1830, a França apoderou-se da Argélia, um vasto território que, pelo menos nominalmente, pertencia ao Império otomano. Durante as Guerras Napoleónicas a França importou grandes quantidades de bens alimentares da Argélia, em grande parte obtidos a crédito. Em 1827, o governante argelino, Hussein Dey (1765-1838), exigiu que a França liquidasse uma dívida contraída em 1799 com a compra de abastecimentos para a Campanha do Egito. O cônsul francês recusou responder de forma satisfatória a Hussein e este, no calor da discussão, tocou na face do cônsul com o seu “afasta-moscas”. Este gesto foi considerado um insulto e após um bloqueio de três anos ao porto de Argel, as tropas francesas desembarcaram a 14 de junho de 1830. Como pano de fundo destes acontecimentos estava a instabilidade que então se vivia em França e a necessidade de desviar a atenção dos franceses dos problemas internos.
Após estes acontecimentos, foi no interior do Senegal que a França reiniciou a atividade colonial, no Segundo Império (Napoleão III, 1852-1870), mas foi depois de 1870 que verdadeiramente tiveram início as novas empresas coloniais. A cronologia seguinte mostra-nos a evolução dos empreendimentos franceses em África:
10 de setembro de 1880 – Tratado Brazza-Makoko. Este tratado, foi ratificado pelo parlamento francês a 22 de novembro de 1882. A França obteve a soberania sobre uma parte da região do Congo.
12 de maio de 1881 – Tratado do Bardo. Foi instaurado o protetorado francês sobre a Tunísia. Este assunto volta a ser objeto de ação diplomática em 8 de junho de 1883 com a Convenção de La Marsa, complementar do tratado anterior.
1882 – Os Franceses desembarcam em Madagáscar; os britânicos ocupam o Egipto.
26 de fevereiro de 1885 – Assinada a ata da Conferência de Berlim (1884-1885).
5 de agosto de 1890 – Reconhecimento mútuo dos protetorados de Zanzibar (Reino Unido) e Madagáscar (França). Delimitação de fronteira entre o Níger (França) e a Nigéria (Reino Unido).
1894 – Anexação do Reino do Daomé, atual Benim, pela França.
20 de março de 1894 – Lei que institui o Ministério das Colónias, com a missão de centralizar a gestão das colónias.
14 de agosto de 1894 – Convenção franco-congolesa. Leopoldo II da Bélgica (1835-1909), proprietário do Estado Livre do Congo (1885-1908) renunciou a uma parte do território e a França obteve acesso ao Nilo.
16 de junho de 1895 – Criação da África Ocidental Francesa, que englobava o Senegal, o Sudão Francês, a Guiné e a Costa do Marfim.
14 de junho de 1898 – Convenção franco-britânica respeitante ao Níger. A França obtém Nikki e o Reino Unido obtém Sokoto.
19 de janeiro de 1899 – Convenção anglo-egípcia – Estabelecimento do condomínio anglo-egípcio no Sudão.
12 de março de 1899 – Declaração franco-britânica – A França retira-se do vale do Nilo ficando regulada a questão de Fachoda.
14 de dezembro de 1900 – Acordo franco-italiano – A França obtém “liberdade” de intervenção em Marrocos e a Itália na Líbia.
1904 – A África Ocidental Francesa passa a ser constituída por seis elementos: Senegal, Alto Senegal e Níger, Mauritânia, Guiné, Costa do Marfim e Daomé.
Num curto espaço de tempo – 24 anos - a França formou o seu império colonial africano. Tratou-se de uma expansão com motivações sobretudo políticas. Ao longo deste tempo, foram definidas regras na Conferência de Berlim que decorreu entre 15 de novembro de 1884 e 26 de fevereiro de 1885, foram feitos numerosos acordos para delimitação de zonas de influência ou de fronteiras conforme o conhecimento que as Potências iam tendo sobre o terreno e, em geral, os conflitos de interesses entre as Potências europeias foram resolvidos pacificamente. No entanto, surgiu uma situação delicada que poderia ter originado um conflito entre a França e o Reino Unido: o caso de Fachoda, no Sudão.
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