A expansão colonial britânica foi uma expansão de toda
a sociedade. «O facto mais notável da história britânica no século dezanove,
como Seeley assinalou, é que se trata da história de uma sociedade em expansão.
As exportações de capital e manufaturas, a migração de cidadãos, a disseminação
da língua inglesa, ideias e modelos constitucionais, foram todos eles
irradiações das energias sociais dos povos britânicos.» Tratou-se de um
“imperialismo de livre comércio” (Imperialism
of Free Trade), solitário, que evoluiu para se adaptar à corrida pelos
territórios africanos, à concorrência das outras Potências europeias, às regras
impostas na Conferência de Berlim (1885), à ameaça que a nova conjetura
representava para os interesses britânicos privados já instalados. É nesta
última fase que se assiste a uma intervenção oficial por forma a garantir as
condições de segurança necessárias à expansão económica.
O domínio europeu em África. Imagem original em http://mrwigginshistoryclass.com/home-page/modern-world-history/european-imperialism-in-africa/5-1-scramble-for-africa/
Os sucessivos governos britânicos utilizaram todos os
expedientes informais para garantir a segurança nas regiões onde o comércio
britânico tinha chegado, em África, antes de procederem à anexação desses
territórios. Esses expedientes passavam por obter garantias de acesso e
comércio livre em territórios reclamados por outras Potências, negociavam zonas
de influência ou estabeleciam protetorados reconhecidos pelas potências
estrangeiras. Enquadraram-se nestas práticas, o Tratado Anglo-Português de 1884
sobre a embocadura do rio Congo, as regras do Tratado de Berlim de 1885, o
Acordo Anglo-Alemão de 1886 sobre a África Oriental ou o Tratado de
Zanzibar-Heligolândia de 1890. Só quando estes meios políticos falhavam e isso
significava pôr em causa a segurança das atividades britânicas, económicas ou
simplesmente filantrópicas, ou de posições estrategicamente importantes, é que
se passava ao patamar da intervenção armada. A “partilha de África” a isso levou,
nomeadamente a expansão francesa e a mudança de política da Alemanha de
Bismarck que acabou por optar pelo colonialismo. «O imperialismo britânico foi
em primeiro lugar e acima de tudo defensivo e reativo, mas mudou
progressivamente de carácter.»
A expansão britânica não podia ser realizada sem o
desenvolvimento de uma ideologia imperial, sem a pressão de grupos e pessoas
defensoras da expansão colonial. Sir Charles Wentworth Dilke (1843-1911) com a
sua obra Greater Britain (1868), Sir John Robert Seeley (1834-1895) com The
Expansion of England (1883), James Anthony Froude (1818-1894) com Oceana
(1886), e «o maior dos escritores imperialistas», Rudyard Kipling (1865-1936), foram
figuras de grande relevo na defesa da expansão colonial. Curiosamente, de toda
a obra de Kipling, «uma vasta apologia da expansão branca e em particular
inglesa», o texto mais conhecido e evocado é o poema The White Man’s Burden
(O Fardo do Homem Branco), publicado no The Times (Londres), a 4 de fevereiro
de 1899, que se destinava a encorajar a colonização e anexação americana do
arquipélago das Filipinas, conquistado pelos EUA durante a Guerra
Hispano-Americana de 1898.
O Império Britânico, ao atingir a sua máxima extensão,
englobava cerca de um quarto do planeta e da população mundial. Tratou-se de um
império construído num processo longo e em que os elementos político,
económico, demográfico e cultural tiveram, todos, o seu peso nessa expansão. «O
crescimento demográfico constante, uma economia dinâmica, harmonia social e um
regime político estável foram os fundamentos da expansão britânica.» Entre 1840
e 1880, o Reino Unido anexou a Costa do Ouro (Gana), Lagos (atualmente a maior
cidade da Nigéria) e a Serra Leoa (costa ocidental africana), o Natal (atual
província de KwaZulu-Natal da África do Sul), a Basutolândia (atual Lesoto), a
Griqualândia-Oeste (hoje parte da República da África do Sul) e o Transval
(norte da República da África do Sul; faz fronteira com Moçambique). Perto de
1880, cerca de dois mil milhões de libras esterlinas tinham sido investidas
fora das ilhas britânicas, mas deve-se ter em conta que os investimentos de
menor monta foram feitos na Ásia (com exceção da Índia) e em África por
oferecerem perspetivas de retorno inferiores.
Em 1914, o Império Britânico em África incluía a
Gâmbia, a Costa do Ouro e a Nigéria, na África Ocidental, a União Sul-Africana,
Basutolândia, Suazilândia, Bechuanalândia, Rodésia e Niassalândia, na África
Austral, a África Oriental Britânica, que englobava o Quénia e o Uganda, e a
Somália Britânica na África Oriental, e o Egipto e Sudão no nordeste africano.
Nestes territórios existiam formas diferentes de ocupação. Para a nossa
narrativa é importante compreender a posição britânica no Egipto e no Sudão.
Neste cenário que, por agora limitamos a África, o
Reino Unido, ao desenvolver os seus interesses imperialistas, foi obrigado a
interagir com forças políticas e forças armadas africanas e europeias. Neste
âmbito, devem ser destacados os acontecimentos relativos ao controlo do Canal
de Suez, que conduziu, primeiro, ao domínio do Egito e, posteriormente, à
conquista do Sudão para permitir o controlo do Nilo, do qual o Egito dependia.
Foi também neste âmbito que se enquadraram algumas das cláusulas do Tratado de
Heligolândia-Zanzibar (1890), estabelecido entre o Reino Unido e a Alemanha.
Mas foi também na região do Nilo, em Fachoda, que um incidente esteve perto de
fazer deflagrar uma guerra entre o Reino Unido e a França. Nestes acontecimentos, vemos as forças
britânicas combaterem contra as forças egípcias e, posteriormente, a formação
de forças anglo-egípcias. Na batalha de Omdurman (2 setembro 1898), a força
anglo-egípcia englobava combatentes sudaneses. A ação militar britânica na
região do Nilo, nomeadamente no Sudão, foi um esforço militar considerável que,
antes da Primeira Guerra Mundial, só foi suplantado pelo esforço militar
durante as guerras dos Bóeres (20/12/1880 – 23/03/1881 e 11/10/1899 – 31/05/1902).
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