segunda-feira, 14 de abril de 2025

As questões coloniais do Reino Unido

 

A expansão colonial britânica foi uma expansão de toda a sociedade. «O facto mais notável da história britânica no século dezanove, como Seeley assinalou, é que se trata da história de uma sociedade em expansão. As exportações de capital e manufaturas, a migração de cidadãos, a disseminação da língua inglesa, ideias e modelos constitucionais, foram todos eles irradiações das energias sociais dos povos britânicos.» Tratou-se de um “imperialismo de livre comércio” (Imperialism of Free Trade), solitário, que evoluiu para se adaptar à corrida pelos territórios africanos, à concorrência das outras Potências europeias, às regras impostas na Conferência de Berlim (1885), à ameaça que a nova conjetura representava para os interesses britânicos privados já instalados. É nesta última fase que se assiste a uma intervenção oficial por forma a garantir as condições de segurança necessárias à expansão económica.

O domínio europeu em África. Imagem original em http://mrwigginshistoryclass.com/home-page/modern-world-history/european-imperialism-in-africa/5-1-scramble-for-africa/

Os sucessivos governos britânicos utilizaram todos os expedientes informais para garantir a segurança nas regiões onde o comércio britânico tinha chegado, em África, antes de procederem à anexação desses territórios. Esses expedientes passavam por obter garantias de acesso e comércio livre em territórios reclamados por outras Potências, negociavam zonas de influência ou estabeleciam protetorados reconhecidos pelas potências estrangeiras. Enquadraram-se nestas práticas, o Tratado Anglo-Português de 1884 sobre a embocadura do rio Congo, as regras do Tratado de Berlim de 1885, o Acordo Anglo-Alemão de 1886 sobre a África Oriental ou o Tratado de Zanzibar-Heligolândia de 1890. Só quando estes meios políticos falhavam e isso significava pôr em causa a segurança das atividades britânicas, económicas ou simplesmente filantrópicas, ou de posições estrategicamente importantes, é que se passava ao patamar da intervenção armada. A “partilha de África” a isso levou, nomeadamente a expansão francesa e a mudança de política da Alemanha de Bismarck que acabou por optar pelo colonialismo. «O imperialismo britânico foi em primeiro lugar e acima de tudo defensivo e reativo, mas mudou progressivamente de carácter.»

A expansão britânica não podia ser realizada sem o desenvolvimento de uma ideologia imperial, sem a pressão de grupos e pessoas defensoras da expansão colonial. Sir Charles Wentworth Dilke (1843-1911) com a sua obra Greater Britain (1868), Sir John Robert Seeley (1834-1895) com The Expansion of England (1883), James Anthony Froude (1818-1894) com Oceana (1886), e «o maior dos escritores imperialistas», Rudyard Kipling (1865-1936), foram figuras de grande relevo na defesa da expansão colonial. Curiosamente, de toda a obra de Kipling, «uma vasta apologia da expansão branca e em particular inglesa», o texto mais conhecido e evocado é o poema The White Man’s Burden (O Fardo do Homem Branco), publicado no The Times (Londres), a 4 de fevereiro de 1899, que se destinava a encorajar a colonização e anexação americana do arquipélago das Filipinas, conquistado pelos EUA durante a Guerra Hispano-Americana de 1898.

O Império Britânico, ao atingir a sua máxima extensão, englobava cerca de um quarto do planeta e da população mundial. Tratou-se de um império construído num processo longo e em que os elementos político, económico, demográfico e cultural tiveram, todos, o seu peso nessa expansão. «O crescimento demográfico constante, uma economia dinâmica, harmonia social e um regime político estável foram os fundamentos da expansão britânica.» Entre 1840 e 1880, o Reino Unido anexou a Costa do Ouro (Gana), Lagos (atualmente a maior cidade da Nigéria) e a Serra Leoa (costa ocidental africana), o Natal (atual província de KwaZulu-Natal da África do Sul), a Basutolândia (atual Lesoto), a Griqualândia-Oeste (hoje parte da República da África do Sul) e o Transval (norte da República da África do Sul; faz fronteira com Moçambique). Perto de 1880, cerca de dois mil milhões de libras esterlinas tinham sido investidas fora das ilhas britânicas, mas deve-se ter em conta que os investimentos de menor monta foram feitos na Ásia (com exceção da Índia) e em África por oferecerem perspetivas de retorno inferiores.

Em 1914, o Império Britânico em África incluía a Gâmbia, a Costa do Ouro e a Nigéria, na África Ocidental, a União Sul-Africana, Basutolândia, Suazilândia, Bechuanalândia, Rodésia e Niassalândia, na África Austral, a África Oriental Britânica, que englobava o Quénia e o Uganda, e a Somália Britânica na África Oriental, e o Egipto e Sudão no nordeste africano. Nestes territórios existiam formas diferentes de ocupação. Para a nossa narrativa é importante compreender a posição britânica no Egipto e no Sudão.

Neste cenário que, por agora limitamos a África, o Reino Unido, ao desenvolver os seus interesses imperialistas, foi obrigado a interagir com forças políticas e forças armadas africanas e europeias. Neste âmbito, devem ser destacados os acontecimentos relativos ao controlo do Canal de Suez, que conduziu, primeiro, ao domínio do Egito e, posteriormente, à conquista do Sudão para permitir o controlo do Nilo, do qual o Egito dependia. Foi também neste âmbito que se enquadraram algumas das cláusulas do Tratado de Heligolândia-Zanzibar (1890), estabelecido entre o Reino Unido e a Alemanha. Mas foi também na região do Nilo, em Fachoda, que um incidente esteve perto de fazer deflagrar uma guerra entre o Reino Unido e a França.  Nestes acontecimentos, vemos as forças britânicas combaterem contra as forças egípcias e, posteriormente, a formação de forças anglo-egípcias. Na batalha de Omdurman (2 setembro 1898), a força anglo-egípcia englobava combatentes sudaneses. A ação militar britânica na região do Nilo, nomeadamente no Sudão, foi um esforço militar considerável que, antes da Primeira Guerra Mundial, só foi suplantado pelo esforço militar durante as guerras dos Bóeres (20/12/1880 – 23/03/1881 e 11/10/1899 – 31/05/1902).

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