No período anterior à Primeira Guerra Mundial registaram-se grandes avanços tecnológicos e as doutrinas militares tiveram de adaptar-se a essa evolução. Por outro lado, as doutrinas militares baseiam-se em parte na experiência adquirida noutros conflitos cuidadosamente estudados pelas Potências participantes ou não. Os Britânicos tiveram a experiência da Segunda Guerra dos Bóeres (1899-1902), os Russos tiveram uma má experiência na Guerra Russo-Japonesa (1904-1905) e todas as potências puderam observar o que se passou nas Guerras Balcânicas (1912-1913).
As trincheiras que caracterizaram a Frente Ocidental a
partir de setembro de 1914 eram uma proteção coletiva organizada para enfrentar
o crescente poder de fogo no campo de batalha. A guerra de trincheiras na
Primeira Guerra Mundial não foi um fenómeno novo. Elas fizeram parte da guerra
de cerco, quando os atacantes cavavam trincheiras para se protegerem do fogo
dos sitiados. Foram utilizadas durante o Cerco de Sebastopol na Guerra da
Crimeia (1853-1856) e na Guerra Civil Americana (1861-1865) durante os cercos
de Vicksburg e Petersburg. Foram menos utilizadas na Guerra dos Bóeres
(1899-1902) porque, ao contrário do que sucedia na Frente Ocidental na Europa,
o terreno do teatro de operações na África do Sul era muito rochoso. As
trincheiras foram também muito utilizadas na Guerra Russo-Japonesa (1904-1905).
A guerra de trincheiras não foi, portanto, uma novidade em 1914. O que foi
verdadeiramente genuíno na Primeira Guerra Mundial foi a escala e a duração da
guerra de trincheiras. De igual forma, o arame farpado já era conhecido dos
militares em 1914. Aliás, os militares portugueses foram os primeiros
combatentes europeus a utilizar o arame farpado com fins defensivos (8 de
setembro de 1895, Magul, Moçambique) [STAPLETON, 2013, p. 107]. A técnica de
construção de trincheiras, a que devemos juntar o arame farpado e a pólvora sem
fumo que permitia dissimular a posição do atirador são, entre outros, fatores
que favorecem a defensiva.
As comunicações no teatro de operações são utilizadas
fundamentalmente para encaminhar informação para os comandantes poderem
fundamentar as suas decisões e para transmitir ordens aos comandos
subordinados. A necessidade de os comandantes se manterem bem informados e
fazerem chegar rapidamente aos destinatários as suas ordens foi sendo cada vez
mais necessária à medida que as forças armadas se tornavam maiores e a guerra
mais complexa devido à evolução da tecnologia e da tática. Em 1914, era
possível comunicar não apenas por fio, mas também por radio (sem fios).
Contudo, estes sistemas apresentavam muitas limitações. O sistema de fios não
era adequado às operações ofensivas, que exigiam movimento, e o sistema sem
fios era demasiado volumoso e pesado, razão por que inicialmente a sua
utilização militar estava limitada aos meios navais. Contudo, quando os
movimentos das tropas ficaram limitados pela guerra de trincheiras, o sistema
sem fios começou a ser utilizado nos escalões mais elevados. Quando o fogo de
artilharia danificava e cortava as comunicações por fio, apesar de enterradas,
era necessário recorrer ao método utilizado desde a antiguidade: o estafeta. Só
perto do final da guerra, as unidades da linha da frente e de escalão mais
baixo começaram a dispor de rádios. Contudo, desde finais do século XIX que era
possível comunicar entre continentes através dos cabos submarinos.
As comunicações telefónicas sem fios apresentavam o problema
da segurança. As ondas rádio alcançavam o território inimigo o que obrigava a
utilizar códigos ou sistemas de cifra. Por outro lado, as Potências
beligerantes procuravam decifrar as comunicações inimigas. Estas preocupações
não se colocavam apenas ao nível das operações militares, mas também ao nível
estratégico. Todos os governos procuravam obter informações através da análise
das comunicações das Potências adversárias. Os códigos e cifras, quando não
eram suficientes para impedir os adversários de conhecer o teor das
comunicações uns dos outros, pelo menos obrigavam a um trabalho de
descodificação e decifração das mensagens que atrasava o conhecimento do seu
conteúdo. No teatro de operações, no campo da tática, estas demoras podiam
tornar o seu conhecimento inútil.
Em 1914, a metralhadora era uma arma relativamente recente.
Na Guerra Civil Americana (1861-1865) foi utilizada a metralhadora Gatling, uma
arma com vários canos rotativos movidos manualmente por uma manivela, com 363
Kg e que permitia atingir uma cadência de 60 tiros por minuto (tpm). A primeira
metralhadora automática foi inventada em 1884 por Sir Hiram Maxim. A
metralhadora Maxim foi adotada ou deu origem a outros modelos adotados por
vários exércitos europeus. Um protótipo da metralhadora foi oferecido às Forças
Britânicas que o empregaram na expedição ao sul do Egito de 1886 a 1890. A
Guerra Russo-Japonesa (1904-1905) e as Guerras Balcânicas (1912-1913) foram os
primeiros conflitos em que a metralhadora (já comercializada) foi utilizada,
mas o seu número era pequeno e não tiveram um papel significativo no campo de
batalha. Com 27,7 Kg permitia disparar 660 tpm. Em 1914, os diferentes
exércitos equivaliam-se nas possibilidades dos diferentes modelos em uso e no
número de metralhadoras pesadas previstas nos seus quadros orgânicos: uma
divisão de infantaria dispunha em França ou na Alemanha de 24 metralhadoras
pesadas; na Rússia, 16 a 32; na Grã-Bretanha, 24; na Áustria-Hungria, 32 [ELLIS
& COX, 2005, pp. 231-232]. Este material tinha dois inconvenientes:
primeiro, encravava com facilidade; depois pesava entre 40 a 60 Kg sem contar
com as munições e outros acessórios. Só no decorrer da guerra apareceram
metralhadoras mais ligeiras, isto é, com menos de 10 Kg.
Nos primeiros anos do século XX, a cavalaria era utilizada em ações de reconhecimento, como arma de choque ao carregar sobre posições inimigas e nos contra-ataques e para exploração do sucesso do ataque. Estas missões eram executadas a cavalo. Quando a guerra começou, não existiam alternativas para este tipo de ações e quando o terreno era montanhoso a sua ação ficava limitada. Quando a aviação militar começou a ser utilizada, as ações de reconhecimento que antes competiam à cavalaria, que podia atingir maiores distâncias que a infantaria e executar as missões com maior rapidez, foram frequentemente entregues aos militares da aeronáutica. Por outro lado, o crescente poder de fogo no campo de batalha teve como consequência a maior vulnerabilidade de cavalos e cavaleiros. Apenas a 15 de setembro de 1916, na Batalha do Somme (1 de julho a 18 de novembro de 1916), entrou ao serviço o primeiro carro de combate, o Mark 1, britânico.
Apesar da importância das metralhadoras, é a artilharia que detinha um lugar privilegiado. Na segunda metade do século XIX, as bocas de fogo de artilharia passaram a ser fabricadas em aço, com cano estriado e freios hidráulicos. As munições também evoluíram muito. «Entre meados do século XIX e 1914, o desempenho da artilharia tinha sido multiplicado por dez.» [AUDIN-ROZEAU, «Artillerie et mitrailleuses» in AUDOIN-ROUZEAU & BECKER, 2004, p. 257] Os exércitos estavam dotados essencialmente de peças de artilharia de campanha “de tiro rápido” de que o exemplo mais famoso foi a peça francesa “Matériel de 75mm Mle 1897” muitas vezes referida apenas como “Soixante-Quinze”, artilharia ligeira e com grande mobilidade, destinada a fornecer apoio de fogos imediato ao avanço da infantaria. As outras Potências dispunham de bocas de fogo idênticas. No entanto, a artilharia pesada viria a ter um papel importante contra posições fortificadas e na guerra de trincheiras. Os novos mecanismos para medição da direção e elevação das bocas de fogo e a possibilidade de os observadores avançados que transmitiam indicações para regular o tiro, permitiram desenvolver e aperfeiçoar as técnicas de tiro indireto, isto é, tiro executado sobre objetivos não observáveis da posição de onde era realizado o tiro. Os meios disponíveis para a comunicação entre os observadores avançados e as bocas de fogo eram os telefones de campanha, o que limitava as situações em que podiam ser utilizados.
Os avanços tecnológicos do armamento da infantaria e da artilharia e o crescente efetivo dos exércitos teve como consequência um aumento muito grande dos abastecimentos necessários para alimentar o combate. Para um número muito mais elevado de homens e armas eram necessárias mais munições, mais equipamentos, mais víveres e outros apoios. Isto significava que era necessário transportar para o teatro de operações e distribuir no campo de batalha um volume muito superior de recursos humanos, recursos materiais e toda a espécie de abastecimentos o que não era mais compatível com as antigas formas de transporte, os carros puxados por animais. Desde a campanha francesa de Itália (1859) que a via férrea desempenhava um papel essencial no transporte destes recursos. Mas o caminho de ferro não chega a todo o lado embora, em 1914, existisse na Europa Central uma excelente rede ferroviária. O transporte rodoviário começou aqui a ter uma grande importância, mas os equipamentos disponíveis e as infraestruturas são ainda frágeis e a sua capacidade não é comparável à dos recursos ferroviários.
«Em 1832, o general Lamarque informou a Câmara dos Deputados
Francesa que a utilização estratégica do caminho de ferro conduziria a “uma
revolução na ciência militar tão grande como a que tinha sido provocada pela
invenção da pólvora”.» [BELLAMY, Christopher, «railways» in HOLMES, 2001, p.
752] Na Guerra Civil Americana (1861-1865) e nas Guerras da Unificação Alemã a
utilização bem planeada da via férrea permitiu obter excelentes resultados no
posicionamento das tropas. Na Guerra Russo-Japonesa, a linha férrea foi o único
meio disponível para garantir uma linha de comunicações russa - muito longa e
com muitas limitações - com o teatro de operações na Manchúria. Em 1914, as
operações de mobilização e o transporte de tropas para as zonas de reunião,
envolvendo efetivos tão elevados e um volume tão grande de recursos materiais e
de abastecimentos, não teria sido possível sem recorrer aos transportes
ferroviários.
No início do século XX, a marinha tinha sido beneficiada com
desenvolvimentos importantes. Em 1906, a Royal Navy recebeu o HMS Dreadnought,
o primeiro de um novo tipo de navio que deu o nome a esta nova classe. Eram
navios de guerra revestidos a aço, com todas as armas de grande calibre e
sistema de propulsão de turbina a vapor alimentada a carvão. Tratava-se de uma
classe de navios poderosos, mas que eram ameaçados por três outras armas que
tinham tido importantes desenvolvimentos no início do século XX: submarinos,
torpedos e minas navais. Nenhuma destas armas era nova. Durante a Guerra Civil
Americana (1861-1865), o H.L.Hunley da marinha dos Estados Confederados, foi o
primeiro submarino a afundar um navio inimigo, o USS Housatonic, da União. É
claro que se tratava de um sistema muito primitivo em que o sistema de
propulsão baseava-se na força de braços da tripulação que faziam rodar um eixo
que transmitia o movimento a uma hélice. Em 1914, a propulsão dos submarinos
era obtida por um sistema diesel-elétrico. Os torpedos com propulsão autónoma
existiam desde 1866, eram lançados de navios torpedeiros e, mais perto da
guerra 1914-18, de barcos torpedeiros, muito mais ligeiros que os navios. As
minas navais eram utilizadas com eficácia desde meados do século XIX.
AUDOIN-ROUZEAU, Stéphane &
BECKER, Jean-Jacques, Encyclopédie de la Grande Guerre, © 2004, Bayard, Paris,
2004, ISBN 2-227-13945-5.
ELLIS, John & COX,
Michael, The World War I Databook, © 1993, Aurum Press, Great Britain, 2005,
ISBN 1-85410-766-6.
HOLMES, Richard (Editor), The
Oxford Companion to Military History, © 2001, Oxford University Press, New
York, 2001, ISBN 0-19-866209-2.
STAPLETON, Timothy J., A
Military History of Africa, volume 1, © 2013, Praeger, ABC-CLIO, Santa Barbara,
California, USA, 2013, EISBN 978-0-313-39570-3.
Sem comentários:
Enviar um comentário