Entre 1912 e o verão de 1914, a coesão da Tríplice Entente foi posta à prova várias vezes, não apenas devido aos conflitos que então se verificaram, as Guerras Balcânicas em 1912-1913 (ver o texto «Breve História dos Balcãs até 1914» em http://www.oespacodahistoria.com/index.php/200-primeira-guerra-mundial-nos-balcas-ate-1914), mas também porque foram tomadas iniciativas diplomáticas nesse sentido. Aliás, estas últimas foram determinantes para o reforço dos laços da Entente enquanto aqueles conflitos foram mantidos como regionais.
Das crises anteriores – Bósnia
(1908), Marrocos (1911-1912) e Líbia (1911-1912, as Potências da Entente
extraíram as suas conclusões. Em 1908, o apoio da França à Rússia não foi mais
que simbólico. Na crise de 1911-1912, a principal intervenção da Rússia foi no
sentido de pressionar a França a aceitar um compromisso com a Alemanha. Já a
invasão da Líbia pela Itália não teve repercussões tão graves como as crises
anteriores. Em fevereiro de 1912, o Governo russo propôs ao Governo francês uma
reunião para serem esclarecidas as posições a tomar por ambas as
partes em caso de nova crise. Raymond Poincaré (1860-1934), primeiro-ministro
de França de 14 de janeiro de 1912 a 21 de janeiro de 1913, sabia que, se
surgisse outra crise idêntica à de Marrocos (1911-1912) e tendo em conta que
qualquer crise deste género podia rapidamente levar a um conflito com a
Alemanha, iria necessitar do apoio claro da Rússia, isto é, da
certeza da execução das medidas previstas na aliança franco-russa de 1892. Só
desta forma, a França estaria em condições de fazer frente à Alemanha.
Se a França esperava obter um claro apoio da Rússia numa futura crise, então devia estar preparada para proceder de igual forma em relação à sua aliada, o que implicava apoiar a política da Rússia no Médio Oriente. A política seguida pelo Governo francês criou um clima de confiança entre este e o Governo russo. Alexandre Izvolsky, que tinha desempenhado o cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros russo de 1906 a 1910, era agora embaixador russo em Paris e, em setembro de 1912, informou o seu Governo que «se a Rússia se visse envolvida numa guerra com a Áustria como resultado de um ataque da Áustria à Sérvia, e se isso levasse então à intervenção da Alemanha, a França reconheceria o "casus fœderis"». Contudo, o Governo de Poincaré estava empenhado em evitar que a Rússia agisse por forma a envolver-se num conflito nos Balcãs ou no Médio Oriente. Mais de uma vez, a França pressionou a Rússia e a Sérvia para evitar uma guerra com a Áustria.
Apesar da prudência mostrada
pela França, a aliança franco-russa perdia o seu carácter passivo e os
respetivos estados-maiores reuniram-se anualmente para reverem os seus planos
de ação comum em caso de guerra. No verão de 1912, as duas Potências assinaram
uma convenção naval. Pelo seu lado, o Reino Unido também agiu por forma a
estreitar os laços com os seus parceiros da Tríplice Entente. Antes, porém, o
Secretário de Estado da Guerra britânico, Richard Burned Haldane (1856-1928), explorou a possibilidade de um acordo com a Alemanha em conversações que
manteve com os governantes alemães, em Berlim, em 1912. Os Alemães estariam
dispostos a abrandar o seu programa de construção naval se o Reino Unido
estabelecesse um acordo em que garantia a neutralidade no caso de a Alemanha se
envolver numa guerra, o que a acontecer seria contra a França e a Rússia. O
Almirantado Britânico concluiu que as concessões que os Alemães ofereciam não eram suficientes e, por outro lado, a Secretaria de Estado dos
Negócios Estrangeiros não desejava comprometer-se com uma neutralidade que
implicaria sacrificar a Entente com a França ou com a Rússia.
O Secretário de Estado dos
Negócios Estrangeiros britânico, Sir Edward Grey, apresentou uma proposta de
acordo segundo a qual o Governo do Reino Unido declarava que nunca tomaria a
iniciativa nem se juntaria a um ataque lançado contra a Alemanha sem provocação
desta. «A agressão à Alemanha não é o objetivo nem faz parte de qualquer
tratado, acordo ou combinação da qual o Reino Unido faz parte atualmente, nem o
Reino Unido se tornará parte de algo que tenha esse objetivo». Os governantes alemães consideraram insuficientes estas garantias e as
conversações (a Missão Haldane) foram dadas por terminadas. O Governo alemão
prosseguiu com o seu programa naval e os britânicos transferiram os seus navios
do mediterrâneo para o Mar do Norte a fim de manter a supremacia naquela
região. Em compensação, a França reforçou a sua força naval no Mediterrâneo com
a frota sediada em Brest, na Bretanha. Desta forma evitava-se a supremacia das
forças navais da Tríplice Aliança na região – Itália e Áustria-Hungria. Para
estas disposições poderem ser aplicadas em segurança, o Governo britânico
deveria comprometer-se a defender as costas norte da França. Nesse sentido foi
trocada correspondência e, embora concordando com os argumentos franceses, o
Governo britânico não foi além de um acordo de princípios que não impunha aos
britânicos mais que a obrigação de decidir conforme as
circunstâncias.
As relações do Reino Unido com a Rússia não eram tão estreitas como as que tinha desenvolvido com a França. Durante as Guerras dos Balcãs (1912-1913), a diplomacia britânica tentou sempre conciliar os interesses russos e austríacos. Da mesma forma, no Médio Oriente, Sir Edward Grey não apoiou os protestos russos quando, no inverno 1913-1914, os Alemães enviaram uma missão militar para a Turquia. Por estas razões, na primavera de 1914, Sazonov sugeriu que a Tríplice Entente fosse transformada numa aliança formal. Embora o Governo britânico não estivesse na disposição de dar esse passo por questões de política interna, concordou em estreitar o relacionamento entre as duas Potências e foram iniciadas conversações entre os almirantados britânico e russo. Da parte do Reino Unido, houve sempre grandes desconfianças relativamente à Rússia. Uma minuta de 20 de julho de 1914, da Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros britânica, afirmava: «A Rússia é uma Potência formidável e tornar-se-á cada vez mais forte. Esperemos que as nossas relações com ela continuem a ser amigáveis.»
Apesar de algumas
desconfianças e de o Reino Unido insistir em não transformar os acordos com a
França e a Rússia num sistema de alianças, as Potências da Entente chegaram a
julho de 1914 mais unidas que nunca. Era possível ver a mesma tendência entre
as Potências da Tríplice Aliança. Apesar dos conselhos de moderação, da
Alemanha para a Áustria-Hungria, esta não deixou de receber garantias de que,
em caso de guerra contra a Sérvia, teriam o apoio da Alemanha. A Tríplice
Aliança foi renovada em 1912 e a Itália colocou-se ao lado da Áustria-Hungria
em oposição às pretensões da Sérvia em obter uma saída para o Adriático. As
Potências da Tríplice Aliança negociaram uma convenção naval, em vigor desde 1
de novembro de 1913, para derrotarem as frotas inimigas e obterem o
controlo naval do Mediterrâneo. Em março de 1914, a Itália e a Alemanha
estabeleceram um acordo segundo o qual, em caso de guerra com a França, a
Itália enviaria para a Alemanha três Corpos de Exército e duas Divisões de
Cavalaria. Com a corrida aos armamentos que se verificou no início do século
XX, os exércitos das Potências da Tríplice Aliança estavam mais fortes, muito
em especial o da Alemanha.
A Europa estava assim dividida em dois blocos rivais, militarmente mais fortes a cada ano que passava. Apesar de se encontrarem em blocos diferentes, as Potências não deixaram de continuar a tentar acordos para a redução de armamentos ou de cooperar para evitar o alastramento de conflitos. Tal foi o caso das Guerras Balcânicas em que a Alemanha e o Reino Unido agiram por forma a moderar as intenções da Áustria e da Rússia. A Alemanha e o Reino Unido estabeleceram também acordos no que respeita às colónias em África e ao Caminho de Ferro de Bagdade. Com a França, a Alemanha chegou a acordo, em fevereiro de 1914, sobre as respetivas esferas de influência económica na Turquia. Os Franceses não tinham esquecido a Alsácia-Lorena, mas os tempos tinham mudado. O embaixador alemão em Paris escrevia, em fevereiro de 1914: «A ferida de 1871 ainda arde no coração de todos os franceses, mas nenhum está disposto a arriscar o seu pescoço ou o dos seus filhos pela questão da Alsácia-Lorena.»
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