sexta-feira, 2 de maio de 2025

A convenção franco-alemã de 1909

A Ata de Algeciras (1906) atribuiu a várias Potências algumas tarefas em Marrocos. Foi o caso da criação de uma polícia internacional nos oito portos marroquinos abertos ao comércio externo, tarefa que foi atribuída à França e à Espanha. Outra criação importante foi a de um Banco de Marrocos (Banque d'Etat du Maroc) para o que várias Potências contribuíram através dos seus sistemas bancários, entre elas a França e a Alemanha. Existia assim, pelo menos uma área em que deviam agir em conjunto e, na realidade, essa cooperação funcionou bem.
Contudo, a França tinha conseguido ocupar posições-chave em vários sectores da vida económica marroquina e a agitação que se verificava naquele reino justificou a oportunidade de para ali enviar mais forças militares. A ingerência francesa e espanhola em Marrocos era cada vez maior, o que não passou despercebido e não agradou aos Alemães. O Governo alemão decidiu desenvolver uma política construtiva relativamente à França e foi nesse sentido que surgiu a Convenção Franco-Alemã de 8 de fevereiro de 1909.
De acordo com esta Convenção, a Alemanha reconhecia que existiam interesses políticos especiais da França em Marrocos e declarava que não pretendia causar impedimento a esses interesses. No entanto, exigia algo em troca: a integridade e independência do Reino de Marrocos e a salvaguarda do princípio da igualdade económica, o que implicava não obstruir os interesses industriais e comerciais alemães naquele território. A Convenção estabelecia também que nenhuma das Potências deveria procurar obter ou encorajar outros a obterem privilégios económicos e, o que era muito importante, comprometiam-se a associar os seus nacionais ou as suas empresas em atividades em que uma delas conseguisse obter uma concessão.
Parecia que a Alemanha ia mais longe do que tinha admitido na Conferência de Algeciras, pois agora aceitava a existência de interesses políticos especiais da França em Marrocos. A possibilidade de associação de franceses e alemães em atividades que tenham sido concessionadas a um deles era, para os Alemães, a questão-chave desta Convenção e, a 2 de junho de 1909, «propuseram estabelecer um condomínio económico de financiadores franceses e alemães.»
O Governo francês compreendeu então que a Convenção de 8 de fevereiro abria a possibilidade de a Alemanha expandir as suas atividades em Marrocos, colocando este território dependente do arbítrio das decisões alemãs. Tal facto não seria bem-aceite pelo Reino Unido, o que podia causar danos na Entente Cordiale. Durante os próximos dois anos, a França iria colocar todos os entraves possíveis à aplicação da Convenção de 1909. A França conseguiu desta forma salvaguardar muitos dos seus interesses, mas o processo causou danos nas relações franco-alemãs.

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