O interesse da Alemanha nos Balcãs relacionava-se com a necessidade de manter o equilíbrio entre a Áustria-Hungria e a Rússia. Por outro lado, era do interesse de Bismarck manter a Monarquia Dual, isto é, evitar a desintegração do Império Austro-Húngaro, o que levaria os Austríacos, de língua alemã e católicos, a procurarem juntar-se à Alemanha, não existindo então razão para que uma população germânica o não fizesse. Uma situação como esta poria em risco a preponderância da Prússia protestante no Império Alemão. Por outro lado, a Alemanha perderia o seu único aliado de confiança já que a França era o seu potencial inimigo, o Reino Unido mantinha a sua política isolacionista a menos que os seus interesses fossem ameaçados e a posição da Rússia era dúbia porque mantinha um conflito latente com a Áustria devido aos interesses antagónicos nos Balcãs. Bismarck desejava preservar o Império Austro-Húngaro, mas não desejava desafiar a Rússia.
A fórmula encontrada foi a construção de um sistema de
alianças entre a Alemanha, a Áustria-Hungria e a Rússia. Este sistema deixaria
a França isolada já que o Reino Unido manteria a sua política de não
intervenção. No entanto, essa estratégia de Bismarck implicava não apoiar a
Rússia contra os interesses britânicos. Existiam duas áreas de conflito
geoestratégico entre o Reino Unido e o Império Russo: A Ásia Central e os
Estreitos do Bósforo e de Dardanelos. Na Ásia Central, a Rússia desejava
expandir-se para sul visando adquirir um porto nas águas quentes do
Oceano Índico. O Reino Unido receava que a Rússia criasse bases na Ásia
Central, de onde podiam ameaçar a Índia Britânica. Sem entrarem diretamente em
confronto com os russos, os britânicos viram-se envolvidos nas Guerras do
Afeganistão (1839-1842 e 1878-1880) e a situação na região foi sempre uma fonte
de atritos entre as duas Potências. Se o foco das preocupações de Bismarck era
a Europa, a questão do “Grande Jogo” - nome que os britânicos utilizavam para
designar este confronto de interesses com a Rússia - podia ficar fora dos
acordos que fossem concluídos para a Europa. Já o mesmo não se passava
relativamente aos Estreitos porque a sua utilização era (e é) feita de acordo com
normas internacionais estabelecidas então pelas Grandes Potências, o que
incluía a França. O que o Reino Unido receava era que a Rússia dominasse
os Estreitos e, dessa forma, utilizasse o seu poder naval para ameaçar a livre
circulação dos navios britânicos no Mediterrâneo Oriental e, especificamente, o
acesso ao Canal de Suez.
Para manter a paz na Europa era, portanto, necessário não
ameaçar a supremacia naval do Reino Unido e manter a França afastada da
Áustria-Hungria e da Rússia, com quem a Alemanha estabeleceria laços de aliança.
O Acordo dos Três Imperadores começou por ser um acordo entre a Rússia e a
Alemanha para ajuda mútua se um ou outro fosse atacado. A este acordo foi
adicionado outro, entre a Rússia e a Áustria-Hungria, em que concordavam em
estabelecer um processo de consultas em caso de ameaça de agressão. Para estes
acordos não foi estabelecido nenhum prazo de vigência. Tratava-se de uma nova
Santa Aliança, conservadora como as três monarquias que a integravam.
Reconhecendo as consequências da vitória da Prússia em
1870-1871, Francisco José, Imperador da Áustria-Hungria, concluiu que teria
toda a vantagem numa reconciliação com o Império Alemão. O ministro dos
Negócios Estrangeiros da Áustria-Hungria, Gyula Andrássy (1823-1890), era
partidário de uma aliança com a Alemanha, mas desejava que esta aliança
englobasse um terceiro parceiro, o Reino Unido. A estratégia que Andrássy
propunha criava uma aliança, ou conjunto de alianças, contra a Rússia, o que ia
contra os objetivos de Bismarck. No decorrer das negociações com a Alemanha,
Andrássy chegou a propor a independência da Polónia por forma a criar uma
barreira contra a Rússia. Bismarck manteve os seus objetivos, pois considerava
que a ligação com a Rússia era essencial para manter a segurança da Alemanha
contra a França. O principal argumento utilizado por Bismarck para convencer
Andrássy a aceitar o acordo foi o da «solidariedade monárquica, para fazer face
a uma França republicana e agressiva.» Na realidade, este era um falso
argumento em que nem Bismarck acreditava. Os três imperadores reuniram-se em
Berlim, em setembro de 1872. Não foi escrito nenhum acordo e «a reunião foi
apresentada como uma demonstração contra "a revolução".»[1]
Figura
7: O Acordo dos Três Imperadores (Dreikaiserabkommen)
No ano seguinte, em maio, Guilherme I visitou São Petersburgo e, em junho, Alexandre II visitou Viena. Em cada uma destas visitas foram estabelecidos acordos. Em São Petersburgo, Helmuth von Moltke e o Marechal de Campo Friedrich Wilhelm Rembert von Berg (1794-1874), conselheiro de estado russo, assinaram uma convenção que previa ajuda militar mútua em caso de um dos Impérios ser atacado por outra potência europeia. Da visita a Viena resultou um acordo, a que Guilherme I se juntou mais tarde, que estabelecia a promessa de consulta mútua entre os Imperadores no caso em que alguma questão ameaçasse dividi-los. Este acordo entre os três soberanos, estabelecido a 22 de outubro de 1873, tinha, pois, uma estrutura frágil, mas permitiu a Bismarck atingir o seu principal objetivo: o isolamento diplomático da França. As fraquezas deste acordo foram postas à prova nas crises que se seguiram: a crise franco-alemã de 1875 e a crise balcânica de 1875-1878.
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