A região da Europa que ficou conhecida como Alemanha era, antes das Guerras Napoleónicas, um território habitado por cerca de vinte e três milhões de habitantes distribuídos por 314 territórios independentes, governados por autoridades seculares ou religiosas. Grande parte desta região estava incluída no Sacro Império Romano-Germânico sob domínio da Casa de Habsburgo. Tratava-se de um território politicamente muito fragmentado e economicamente subdesenvolvido. Para esta última característica contribuía a ausência de um mercado unificado e a uma estrutura social antiquada em que prevalecia o poder feudal.
O artigo 63 tratava da manutenção da paz na Alemanha: «Os Estados da Confederação empenham-se na defesa, não só de toda a Alemanha, mas de cada um dos Estados da União, caso venham a ser atacados». O mesmo artigo estabelecia também que, no caso de a guerra ter sido declarada pela Confederação, nenhum membro podia, isoladamente, iniciar conversações com o inimigo, fazer a paz ou concluir um armistício sem o consentimento dos outros membros. «Da mesma forma, os Estados da Confederação empenham-se em não fazerem a guerra contra os outros membros, com nenhum pretexto, nem resolver as suas diferenças pela força das armas, mas submetê-las à Dieta que tentará a mediação através de uma Comissão.»[1]
A Confederação Germânica era Formada por trinta e oito Estados. Entre eles o Império Austríaco e sobretudo a Prússia aumentaram os seus territórios e tornaram-se ainda mais influentes. A Prússia recebeu uma parte da Saxónia e a quase totalidade da Renânia. A anexação deste território fez com que a Prússia passasse a ter fronteira com a França, situação relevante em futuras ações militares entre as duas Potências, como foi o caso da Guerra Franco-Prussiana em 1870-1871. A Áustria abandonou o território da Bélgica (os Países Baixos Austríacos), mas beneficiou com a aquisição de territórios na Itália e nos Balcãs.
A Confederação Germânica foi a fórmula encontrada por Klemens Wenzel Nepomuk Lothar, príncipe de Metternich (1773-1859), chanceler da Áustria, para estabelecer um sistema estável e controlável na Europa Central. Os representantes das Potências europeias, reunidos em Viena, ao desenharem a nova carta da Europa, não tiveram em conta um novo fator lançado no jogo político pelas revoluções americana e francesa: o nacionalismo. Durante a Revolução Francesa e o Império Napoleónico, começaram a surgir indícios do nacionalismo alemão. A crescente animosidade contra o regime napoleónico causada pelo Bloqueio Continental foi criando, embora de forma muito indefinida, algum sentimento de unidade no seio dos Estados alemães. Os filósofos Johann Gottfried von Herder (1744-1803), Johann Gottlieb Fichte (1762-1814) e Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) defenderam que a população da Alemanha «era um único volk com uma linguagem pura que seria a base de um Volkstadt firmemente unido». O poeta Ernst Moritz Arndt (1769-1860) defendia a criação de uma Deutsches Vaterland. Friedrich Ludwig Christoph Jahn (1778-1852) fundou as Burschenschaften, corporações de estudantes que, entre outros objetivos, desenvolviam o espírito nacional.
O desenvolvimento económico verificado na Confederação Germânica funcionou como um catalisador para as reformas políticas e para a unificação do território. Em 1818, a Prússia aboliu as taxas alfandegárias internas e, em 1828, assinou um pacto de comércio livre com o Grão-ducado de Hesse-Dermstadt. Também a Baviera, Württemberg e mais tarde o Palatinado aderiram ao comércio livre. Acordos semelhantes foram estabelecidos com os Estados da Alemanha Central. No dia 1 de janeiro de 1834, entraram em vigor uma série de tratados que criavam uma coligação de Estados alemães com a finalidade de fazerem a gestão de taxas, direitos alfandegários e políticas económicas. Esta união aduaneira, o Zollverein, adotou o código tarifário da Prússia de 1818 e foi essencial à industrialização e desenvolvimento económico da Alemanha: unificou o direito comercial e a moeda, criou um mercado interno com tarifas baixas e deu proteção tarifária contra a competição estrangeira. O resultado foi o desenvolvimento económico, mas também o domínio económico e político da Prússia na região. Em 1844, apenas Hanôver, Oldenburg, Mecklenburg, as cidades hanseáticas e a Monarquia dos Habsburgos não eram membros do Zollverein.
Esta união económica criou as condições para o desenvolveu da economia e a prosperidade dos seus membros. O desenvolvimento económico da Prússia disparou. As estradas prussianas cresceram de 38.000 Km em 1815 para 83.000 Km em 1829. O economista alemão Daniel Friedrich List (1789-1846) considerou a via férrea como um elemento vital para o crescimento económico e para a unificação e estas vias de comunicação cresceram de 550 Km em 1840 para 6.000 Km em 1850. A Monarquia dos Habsburgo não conseguiu unir-se ao Zollverein e também não conseguiu construir um sistema alternativo. Lentamente, o desenvolvimento no espaço do Zollverein ameaçava pôr um fim na Confederação. A força económica da Prússia era já superior à da Áustria, mas era ainda a Monarquia dos Habsburgo que assumia a presidência da Confederação Germânica.
Em 1862, Otto von Bismarck (1815-1898) passou a dirigir o governo da Prússia. A sua carreira política tinha sido iniciada no Parlamento, na ala mais conservadora. Durante as Revoluções de 1848, Bismarck opôs-se sempre aos pedidos de reforma constitucional. Em 1851, Frederico Guilherme IV (1795-1861) nomeou Bismarck como seu representante na Dieta da Confederação Germânica em Frankfurt. Oito anos mais tarde desempenhou o cargo de embaixador em São Petersburgo e, em 1862, fez uma curta passagem por Paris em idênticas funções. A 1 de Abril desse ano foi nomeado Ministro-presidente da Prússia e, quinze dias mais tarde, assumiu também o cargo de Ministro dos Negócios Estrangeiros. Entre as importantes reformas que levou a cabo no início das suas funções estava a do Exército Prussiano.
«A Alemanha não olha para o liberalismo da Prússia, olha para a sua força.»[2] Eleito em 1861, o Landtag prussiano era maioritariamente liberal. Esta situação gerou uma confrontação com o rei e a aristocracia prussiana, fortemente conservadora. Foi neste ambiente de confronto que Bismarck foi escolhido para governar a Prússia, enfrentando o Parlamento que se recusava a aprovar novos impostos. Aquela frase também traduzia a forma como Bismarck entendia que a unificação da Alemanha devia ser construída: sob a hegemonia da Prússia. Esta premissa conduzia à questão fundamental que era a de definir os limites da unificação.
Poderia a Áustria fazer parte da Alemanha unificada? Bismarck sabia que a Casa de Habsburgo não aceitaria que a Prússia (Casa de Hohenzollern) se colocasse em pé de igualdade com a Áustria. O Império Austríaco, por outro lado, englobava extensos territórios de língua não germânica e não fazia sentido serem incluídos numa Alemanha unificada. Definitivamente, a Prússia teria de "conquistar" a hegemonia no espaço alemão que não incluía a Áustria. A 30 de Setembro de 1862, no Landtag prussiano, Bismarck declarou: «As grandes questões da atualidade não serão decididas com discursos nem com as resoluções de maioria - este foi o grande erro de 1848 e 1849 -, mas com ferro e sangue.»[3]
[1] OAKES & MOWAT, The Great European Treaties of the Nineteenth Century, Oxford
University Press, Great Britain, 1930, pp. 37-125.
[2] Citado em TAYLOR, Bismarck, o Homem e o Estadista, Edições 70, 2009, p. 56.
[3] SPERBER, Prof. Jonathan (Editor), «Excerpt from Bismarck's "Blood and Iron" Speech (1862)», in German History in Documents and Images, in http://germanhistorydocs.ghi-dc.org/sub_document.cfm?document_id=250&language=english, visto em 12 de março de 2025.
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