O triunfo da Prússia na guerra com a Áustria refletiu-se de forma clara na formação da Confederação da Alemanha do Norte (Nordeutscher Bund) e nos termos da sua Constituição (Konstituierender Reichstag), promulgada a 14 de junho de 1867. Nos termos desta Constituição, a Prússia foi investida na Presidência da Confederação com a responsabilidade de a representar internacionalmente, declarar guerra, concluir a paz, estabelecer alianças e outros tratados com Estados estrangeiros e de acreditar e receber embaixadores em nome da Confederação. Entre muitos outros aspetos, a Constituição estabelecia que todas as forças terrestres da Confederação formavam um único exército sob comando do Rei da Prússia que, entre outros atributos, podia mandar erguer fortalezas em qualquer parte do território da Confederação. A marinha, de igual forma, ficou sob comando da Prússia.
A Confederação era constituída pelos reinos da Prússia e Saxónia; pelos grão-ducados de Hesse, Mecklenbourg-Schwerin, Mecklenbourg-Strelitz, Oldenburg e Saxe-Weimar-Eisenach; pelos ducados de Anhalt, Brunswick, Saxe-Altenbourg, Saxe-Coburg-Gotha e Saxe-Meiningen-Hildburghausen; pelos principados de Lippe-Detmold, Reuss-Greiz, Reuss-Gera, Schaumbourg-Lippe, Schwarzbourg-Rudolstadt, Schwarzbourg-Sondernshausen e Waldeck-Pyrmont; pelas cidades livres de Bremen, Hamburgo e Lübeck. O ducado de Saxe-Lauenbourg pertencia ao rei da Prússia, em união pessoal desde 1865; geralmente não era mencionado como um Estado membro, mas era realmente um Estado independente separado do Reino da Prússia.
Estavam fora da Confederação os Estados alemães do Sul: os Reinos da Baviera e de Wurtemberg, o Grão-ducado de Bade e o Sul do Hesse-Darmstadt. A decisão de manter estes Estados fora da Confederação pertenceu a Bismarck e ficou a dever-se, por um lado, ao facto de ali existir um forte sentimento democrático e anti prussiano e, por outro lado, à intenção de não entrar em choque com Napoleão III, Imperador dos Franceses. No entanto, o artigo 79º da Constituição da Confederação permitia a adesão dos Estados do Sul à Confederação1:
«[1] As relações da federação com os estados do sul da Alemanha serão reguladas imediatamente após a determinação da condição da federação do Norte da Alemanha, por meio de contractos especiais a serem submetidos ao Reichstag para aprovação;
[2] A entrada dos estados alemães do Sul ou de um deles na Federação ocorre por sugestão da presidência federal na forma da legislação federal.»
No entanto, em segredo, esses Estados assinaram com a Prússia tratados de aliança militar, com carácter defensivo e ofensivo.
Charles Louis Napoleon (1808-1873), Napoleão III, foi eleito presidente da República Francesa a 10 de dezembro de 1848. Com o golpe de estado de 2 de dezembro de 1852, pôs fim à República e estabeleceu o Segundo Império Francês. Em 1858 comprometeu-se com a ajuda ao Piemonte na causa da independência de Itália. Mantendo a França o estatuto de principal potência militar do Continente europeu, Napoleão III não deixou de se preocupar com a modernização do seu exército e deu início aos trabalhos nesse sentido.
Isabel II de Espanha (1830-1904) ocupou o trono até 30 de setembro de 1868. Com a revolução chamada "La Gloriosa", Isabel II foi obrigada a fugir para França. Passou a viver em Paris, de onde renunciou ao trono espanhol, a 25 de junho de 1870. Espanha precisava de um novo soberano dado que as Cortes tinham recusado a implementação de uma república. Enquanto a Espanha era governada por um regente, foi redigida e promulgada uma constituição de carácter liberal e procurou-se nas casas reinantes da Europa o futuro soberano espanhol. Entre as várias personagens elegíveis para o trono espanhol encontrava-se o Príncipe Leopoldo de Hohenzollern-Sigmaringen (1835-1905), da família do Rei da Prússia. Leopoldo era casado com D. Antónia de Bragança (1845-1913), filha de D. Maria II (1819-1853) e D. Fernando II (1816-1885) de Portugal.
Leopoldo de Hohenzollern era católico, o que agradava aos Espanhóis, mas não gostava de uma excessiva influência do clero nos assuntos políticos, o que agradava a Bismarck. Mas esta candidatura era também uma possibilidade de resposta da Prússia contra um projeto de aliança entre a França e a Áustria. No que respeita à Europa, o trono de Espanha nas mãos de um Hohenzollern seria um dissuasor das ambições francesas sobre a Alemanha do Sul porque, a concretizar-se a subida ao Trono espanhol do Príncipe Leopoldo, a casa de Hohenzollern governaria a nordeste e a sudoeste de França. Este facto lançou o alarme em Paris. Em caso de conflito, a França teria de enfrentar as forças dos Hohenzollern em duas frentes.
A situação assumia contornos tanto mais graves quanto se fazia sentir o isolamento da França. Napoleão III quis ser recompensado pela neutralidade da França na Guerra Austro-Prussiana (1866) e pretendeu adquirir o Luxemburgo, situação que gerou a chamada "Crise do Luxemburgo" que esteve próximo de dar início a uma guerra entre a França e a Prússia. Também pretendeu adquirir o Palatinado e a Bélgica, negociando com Bismarck estes últimos territórios. No entanto, a 25 de julho de 1870, Bismarck tornou públicas as propostas francesas sobre a Bélgica, independente desde 1830 e com a independência e a neutralidade reconhecidas no Tratado de Londres (19 abril 1839). As Potências signatárias do tratado mostraram o seu desagrado, especialmente o Reino Unido, situação que provocou o seu afastamento da França, favorecendo a estratégia de Bismarck. Na Áustria, que não foi humilhada por Bismarck no final da Guerra Austro-Prussiana e que durante esse conflito com a Prússia também enfrentou a ameaça da Itália que contava com o apoio da França, o sentimento dominante era antifrancês. A Rússia já tinha deixado claro que as suas simpatias estavam do lado da Prússia e a Itália, devido à "Questão de Roma", mantinha muitas reservas quanto à França tanto mais que Napoleão III manteve ali uma força militar para proteção do Papa.
Bismarck apoiava a candidatura do Príncipe Leopoldo de Hohenzollern, mas o Rei Guilherme II da Prússia não pensava da mesma forma porque não desejava ver a sua família envolvida na política instável de Espanha. Por seu lado, Leopoldo também não se mostrava entusiasmado com a perspetiva de vir a ser rei de Espanha. Neste quadro, e atendendo também à oposição do Governo francês, a candidatura de Leopoldo foi retirada a 12 de julho de 1870. No entanto, a França apresentou mais exigências. No dia 13, o embaixador francês, Conde Vincent Benedetti (1817-1900), conseguiu interpelar o Rei da Prússia durante um passeio matinal no Kurpark, na estância termal de Ems. Benedetti, executando ordens do ministro francês dos Negócios Estrangeiros, apresentou a Guilherme II a exigência de um pedido de desculpa pela candidatura e de uma garantia de que não voltaria a ser permitida nova candidatura de um Príncipe Hohenzollern ao trono de Espanha. Guilherme II reiterou o anúncio da retirada da candidatura, mas rejeitou as exigências do embaixador francês. Contudo, não deixou de tratar o embaixador em tom conciliatório.
Bismarck encontrava-se em Berlim quando recebeu o relatório destes acontecimentos por um telegrama enviado de Ems e escrito pelo secretário do rei, Heinrich Abeken. Bismarck estava a jantar com Albrecht von Roon, Ministro da Guerra, e com Helmuth von Moltke, Chefe do Estado-Maior General (Große Generalstab) quando recebeu o telegrama de Ems. O telegrama, a seguir transcrito, encontra-se na obra Pensées et Souvenirs par le prince de Bismarck:
«Le comte Benedetti m’a arrêté au passage à la promenade pour me demander finalement, d’une manière très indiscrète, de l’autoriser à télégraphier aussitôt à l’empereur que je m’engageais pour l’avenir à ne jamais plus donner mon consentement, si les Hohenzollern revenaient sur leur candidature. Je finis par refuser assez sévèrement, attendu qu’on ne devait ni ne pouvait prendre de pareils engagements à tout jamais. Je lui dis naturellement que je n’avais encore rien reçu et puisqu’il était, par la voie de Paris et de Madrid, informé plus tôt que moi, il voyait bien que mon gouvernement était de nouveau hors de cause.»2
Depois de ler o telegrama aos seus convidados, Bismarck perguntou a Moltke se o exército estaria preparado para entrar numa guerra e se acreditava que poderia vencer a França. Moltke assegurou a vitória da Prússia. Bismarck redigiu então uma versão resumida do telegrama no qual parecia que o rei tinha mostrado desprezo pelo embaixador:
«La nouvelle du renoncement du prince héritier de Hohenzollern a été officiellement communiquée au gouvernement impérial français par le gouvernement royal espagnol. Depuis, l’ambassadeur français a encore adressé à Ems, à Sa Majesté le Roi, la demande de l’autoriser à télégraphier à Paris, que Sa Majesté le Roi, à tout jamais, s’engageait à ne plus donner son consentement si les Hohenzollern devaient revenir sur leur candidature. Sa Majesté le Roi là-dessus a refusé de recevoir encore l’ambassadeur français et lui a fait dire par l’aide de camp de service que Sa Majesté n’avait plus rien à communiquer à l’ambassadeur.»3
O telegrama de Bismarck foi publicado na imprensa. Num ambiente em que as relações entre a França e a Prússia estavam já muito tensas, o "Telegrama de Ems" foi a gota de água que conduziu à guerra. Ofendidos pelos termos expressos no telegrama e sem conseguirem as garantias de não renovação de uma candidatura ao trono de Espanha, os Franceses declararam guerra à Prússia, a 19 de julho de 1870. Na prática, declararam guerra à Confederação da Alemanha do Norte porque os Estados englobados nesta Confederação estavam obrigados a participar na guerra ao lado da Prússia. Bismarck já tinha tentado atrair os Estados alemães do Sul com a possibilidade de uma extensão do Zollverein, embora sem sucesso, mas as provas apresentadas sobre a ameaça sobre o Luxemburgo terão, pelo menos, alertado esses Estados para a possibilidade de terem de enfrentar uma ameaça francesa.
A Guerra Franco-Prussiana colocou em evidência a superioridade alemã em armamento, organização e liderança. Estas qualidades permitiram aos Estados alemães, sob a direção da Prússia, derrotar rapidamente os Franceses. Os oficiais do Exército da Prússia constituíam um grupo muito fechado em que a maior parte eram junkers prussianos. A ideia de profissionalismo ainda não tinha conseguido destronar o direito de comandar da aristocracia. A qualidade das tropas era elevada e o analfabetismo quase não existia. «Uma das razões que contribuíram para que os prussianos batessem os franceses em 1870-1 foi o grau muito superior de alfabetização dos seus soldados.»4 Na França, o analfabetismo entre os recrutas ainda era de 18%. Em termos quantitativos, a população das duas potências não era muito diferente. A França, em 1866, tinha cerca de 38.000.000 habitantes e a Alemanha, dois anos antes (1864), tinha uma população inferior, mas muito próxima da população francesa5 [MITCHELL, 1976, p. 20]. No entanto, a população alemã estava a crescer a um ritmo mais rápido que a francesa. Entre 1850 e 1875, a Alemanha cresceu 6.500.000 de habitantes e a França apenas 1.100.000, embora devamos ter em conta as alterações territoriais resultantes da guerra6.
O exército alemão de 1870 era formado pelas forças da Confederação da Alemanha do Norte a que se juntaram as forças fornecidas pelos estados do sul da Alemanha, nomeadamente Baviera, Baden e Wurtemberg. O exército francês tinha a quase totalidade das suas forças operacionais concentradas no Exército do Reno que era formado por oito corpos de exército. Ambos os exércitos tinham uma estrutura idêntica, isto é, a sua base era o Corpo de Exército, uma força formada por tropas de infantaria, cavalaria, artilharia e respetivos apoios, com um efetivo de cerca de 30.000 homens. A organização das reservas é que era muito diferente entre os dois exércitos, estando a França muito atrasada porque as reformas planeadas ainda se encontravam no início da sua implementação quando a guerra começou. De qualquer forma, ao longo do conflito, que foi curto, a França mobilizou 2.000.740 homens e a Alemanha mobilizou 1.494.412, e foram colocados em campanha 949.337 militares franceses e 710.000 alemães7.
Nas duas décadas antes da guerra verificou-se uma extraordinária transformação e expansão económica. Entre 1851 e 1873, em França, o crescimento médio anual atingiu os 5%, sendo a indústria têxtil o ramo mais importante. Já a indústria siderúrgica teve dificuldades em adquirir matéria-prima. A França importava entre 25 a 30% do carvão que consumia, o que, em 1870, era mais de vinte milhões de toneladas. O ferro também era importado, principalmente de Espanha e da Argélia. A produção francesa de ferro e aço em 1869 era de aproximadamente um milhão de toneladas8.
Na Alemanha, a industrialização tinha progredido apenas na Renânia e na Vestefália, onde as comunicações eram mais fáceis, onde existia já uma tradição industrial e onde existiam os recursos naturais necessários. A formação do Zollverein e a construção das linhas férreas facilitaram o desenvolvimento da indústria. Entre 1840 e 1850 tinham sido constituídas grandes sociedades mineiras com capital francês, britânico e belga. Em 1850 a França produziu 406.000 toneladas métricas (t) de ferro gusa e a Alemanha apenas produziu 210.000 t, mas em 1870, quando a França tinha aumentado a sua produção para 1.178.000 t, a Alemanha já se encontrava à frente com 1.261.000 t. Na produção de aço bruto, em 1870, a Alemanha, com 126 t, estava também à frente da França, com 84 t9.
Mais do que na indústria ou na agricultura, os governos envolveram-se no desenvolvimento dos transportes e meios de comunicação. Neste caso, o caminho de ferro tinha grande importância económica e militar, razão pela qual os governos exerciam uma supervisão muito próxima sobre esta área. Em 1869, a França tinha construído 16.465 Km de linha férrea e a Alemanha 17.215 km. No entanto, neste mesmo ano, os Franceses transportavam ligeiramente mais mercadorias no caminho de ferro (6.271.000.000 ton/Km) do que os Alemães (5.330.000.000 ton/Km)10. No tráfego de passageiros, também em 1869, (4.108.000.000 passageiros/Km, na França, e 3.530.000.000 na Alemanha) existia alguma vantagem dos Franceses. O Produto Nacional Bruto (PNB, em inglês GNP) per capita era em 1870, com as fronteiras anteriores à guerra, de 437 US$ de 1960 para a França e 428 US$ para a Alemanha11.
Relativamente aos dados acima apresentados, podemos concluir que não existia nenhuma vantagem significativa por cada uma das partes. No entanto, se analisarmos a evolução destes valores ao longo dos anos e para além de 1870, ano em que teve início a Guerra Franco-Prussiana, verificamos que a Alemanha se desenvolveu a um ritmo muito superior ao da França, na população, na indústria, nas comunicações, nos caminhos de ferro e outras atividades. Para além da população ou da produção do carvão e do ferro e aço, é necessário saber o que foi realizado com os recursos disponíveis.
Em meados do século XIX, para além da matéria prima disponível, importada ou não, a máquina a vapor é um dos fatores que caracterizaram a época. Se a industrialização progredia, isso significava que aumentava a produção de energia a vapor. Em 1870, a energia industrial produzida por máquinas fixas na Alemanha tinha igualado a da Grã-Bretanha - 900.000 cavalos-vapor (CV) - e isto significava que, em vinte anos, tinha evoluído de 40.000 CV para 900.000 CV enquanto a França, em igual período, apenas evoluiu de 67.000 CV para 341.000 CV. A Alemanha, apesar das estatísticas apresentadas, chegou às vésperas da Guerra Franco-Prussiana com uma indústria mais diversificada e uma dinâmica industrial francamente superior à França. Numa época em que a força militar se baseava cada vez mais «no potencial industrial, na capacidade tecnológica e nos conhecimentos técnicos», estes fatores tornavam-se determinantes para o desenrolar dos acontecimentos. Desde a década de 1860, «o desenvolvimento industrial passa a ser uma condição essencial para que os Estados mantenham o seu lugar no clube das "grandes potências".»12
No dia 14 de julho, o telegrama de Ems estava publicado nos principais jornais da Europa. Em Paris, o tratamento concedido ao embaixador, na versão do telegrama redigido por Bismarck, era considerado um insulto que a França não devia tolerar. Napoleão III deu ordem para a convocação das reservas e a Assembleia votou o orçamento para a guerra. O Marechal Edmond Leboeuf (1809-1888), Ministro da Guerra, declarou que o Exército estava pronto para o conflito. Na Assembleia, apenas foram contados 10 votos contra a guerra, num total de 245. As decisões tomadas em Paris rapidamente chegaram a Berlim. No dia 16 de julho, Moltke pôs em execução os planos de guerra. No dia 19 foi entregue a Bismarck a declaração de guerra formal por parte dos Franceses. Em todo este processo, desde o início da crise, a declaração de guerra foi o único contacto estabelecido entre os governos da França e da Prússia.
O sistema de caminho de ferro francês era superior ao da Prússia e esse facto podia proporcionar uma vantagem que permitiria a França manter a iniciativa. Mas a realidade é que os Franceses não estavam preparados para o conflito embora fosse sua a iniciativa do conflito armado. Os seus planos para a guerra eram rudimentares e não permitiam fazer o aproveitamento necessário das infraestruturas ferroviárias. A falta de um Estado Maior General adequado e de um planeamento feito em tempo de paz era uma das grandes fraquezas da França. A outra, era a qualidade da liderança. O exército alemão, pelo contrário, estava dotado de um Estado Maior General moderno, ciente das transformações que as novas tecnologias traziam para o meio militar e, além do mais, estava sob comando do General Helmuth von Moltke cujas qualidades militares ficaram bem esclarecidas nestas guerras.
No dia 28 de julho, quando Napoleão III chegou a Metz para assumir o comando das operações, apenas 200.000 soldados tinham sido mobilizados e muitos ainda procuravam chegar às suas unidades. O "Exército do Reno" iniciou o seu avanço a 31 de julho e, no dia 2 de agosto, as forças francesas atravessaram a fronteira e capturaram Saarbrücken (cidade alemã), onde não encontraram grande resistência. Esta "vitória" foi festejada em Paris, mas, a 5 de agosto, o Primeiro Exército prussiano contra-atacou e as forças francesas foram obrigadas a retirar. O resto da guerra foi uma sucessão de vitórias da Prússia: Wissembourg (4 de agosto), Wörth e Spicheren (6 de agosto), Mars-la-Tour (16 de agosto), Gravelotte – St Privat (18 de agosto) e Sedan (1-2 de setembro). Nesta última batalha, o próprio Napoleão III foi capturado.
Após a derrota em Sedan, o Império caiu e foi proclamada a Terceira República. No dia 19 de setembro teve início o cerco de Paris, Estrasburgo rendeu-se a 28 e, um mês mais tarde (27 de outubro), rendeu-se Metz. A 9 de novembro, o Exército do Loire, sob comando do General D'Aurelle de Paladines (1804-1877), atacou e venceu uma força da Baviera, em Coulmiers. A 30 deste mês houve uma tentativa falhada de romper o cerco a Paris e, a 5 de janeiro de 1871, foi dado início ao bombardeamento da capital francesa. A 10, 11 e 12 de janeiro, uma força francesa sob comando do General Antoine Chanzy (1823-1883), com cerca de 150.000 homens, foi completamente derrotada pelas tropas do Príncipe Friedrich Karl von Preußen (1828–1885), com um efetivo três vezes menor, 50.000 homens. A 19 de Janeiro, os Franceses foram derrotados em Saint Quentin, em mais uma tentativa para libertar Paris. A capital francesa rendeu-se no dia 27 e, no dia seguinte foi assinado um armistício com a Alemanha.
A vitória da Confederação da Alemanha do Norte e dos Estados da Alemanha do Sul, seus aliados, permitiu atingir o acordo para a unificação da Alemanha, ainda antes de terminada a guerra. No dia 18 de janeiro de 1871, na Sala dos Espelhos do Palácio de Versalhes, foi proclamado Império Alemão e o rei da Prússia como seu imperador. Guilherme II da Prússia era, a partir de então, o Kaiser da Alemanha (Guilherme I da Alemanha) e Otto von Bismarck o seu chanceler. Quando foi acordado um armistício com os Franceses (27 de janeiro), pondo fim ao cerco de Paris, a França teve de negociar com uma unidade política muito mais poderosa do que aquela a quem tinha declarado guerra. Já não foi com a Prússia, mas com o Império Alemão que foram negociados os termos da paz. As negociações decorreram num cenário de humilhação para os Franceses pois os encontros para as negociações foram realizados em Versalhes, sob domínio alemão. No dia 26 de fevereiro, chegaram a um acordo sobre as condições da paz e no dia 1 de março as tropas alemãs realizaram uma parada em Paris.
O encontro de Napoleão III e Bismarck após a captura de Napoleão na Batalha de Sedan, 1870. Pintado por Wilhelm Camphausen, 1878. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Franco-Prussiana#/media/Ficheiro:BismarckundNapoleonIII.jpg.
Poderia a derrota da França ou apenas essa possibilidade suscitar a intervenção das outras potências europeias? A Áustria-Hungria não entrou na guerra ao lado da França pelo ressentimento ainda presente devido à guerra no norte de Itália (Segunda Guerra da Independência Italiana, 1859). A derrota da França permitia à Rússia maior liberdade de ação no Próximo Oriente. O Reino Unido não encontrou razões para intervir porque a situação da Bélgica, de cuja independência e neutralidade era responsável tal como as outras Grandes Potências europeias, estava salvaguardada pela própria Confederação da Alemanha do Norte. Os Italianos não eram uma Potência que pudesse dar-se ao luxo de intervir no conflito a não ser diplomaticamente, mas a guerra e a derrota da França, que tinha sido o garante da independência de Roma, colocou esta cidade nas mãos do Estado Italiano e reduziu os domínios pontificais à cidade do Vaticano. A França encontrava-se isolada.
Pelo acordo preliminar de paz, assinado em Versalhes a 26 de fevereiro, foram estabelecidas as novas fronteiras entre a França e a Alemanha e decidida a indemnização que a França deveria pagar. A França cedeu um território que englobava 93% da Alsácia e 26% da Lorena. Este território anexado pelo recém-criado Império Alemão passou a ser designado como Território Imperial da Alsácia-Lorena. O Tratado também tratou das condições de evacuação das tropas alemãs no território ocupado, das populações dos territórios da Alsácia-Lorena, dos prisioneiros de guerra e de uma série de questões de carácter administrativo. Os Estados do sul da Alemanha, Baviera, Würtemberg e Baden, só tiveram conhecimento destas condições no dia da assinatura deste tratado preliminar. O tratado de paz definitivo foi assinado em Frankfurt a 10 de maio de 1871.
O Império Alemão em 1871
O Tratado de Frankfurt13 continha dezoito artigos aos quais foram acrescentados, em anexo, três artigos adicionais. Os dezoito artigos do Tratado confirmavam com algumas alterações as linhas gerais do tratado preliminar assinado em Versalhes, em Fevereiro: as fronteiras foram ajustadas (artigo I) e as disposições relativas à população que permanecia no território foram melhoradas (artigo II); foi estabelecida a entrega de documentos relativos a registos civis, militares e de outras questões administrativas sobre os territórios cedidos (artigo III) bem como as questões financeiras desses mesmos territórios (artigo IV); foi tratada a questão da navegação de canais e afluentes do Reno (artigo V); a questão religiosa das comunidades católicas, protestantes ou judias desses territórios (artigo VI); o processo de pagamento da indemnização da França à Alemanha no valor total de 5.000.000.000 de francos e as condições em que se processa a ocupação até estarem reunidas determinadas condições desse pagamento (artigo VII); sobre a manutenção das tropas alemãs de ocupação (artigo VIII); sobre prisioneiros de guerra (artigo IX); sobre um conjunto de questões administrativas (artigos X a XV); sobre os túmulos dos militares mortos durante a guerra (artigo XVI); sobre futuras negociações relativas a questões não especificadas neste tratado (artigo XVII) e sobre as ratificações (artigo XVIII). Os artigos adicionais respeitam à utilização dos caminhos de ferro.
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1 Texto completo da Constituição, em alemão, em http://www.documentarchiv.de/nzjh/ndbd/verfndbd.html (Em alemão), visto em 2025-03-15. Atendendo a que este texto nos é apresentado como uma página na Internet, é possível e fácil ler a sua tradução para língua portuguesa.
2https://www.persee.fr/doc/rhmc_0996-2743_1899_num_1_2_4127_t1_0194_0000_1; https://fr.wikipedia.org/wiki/Dépêche_d%27Ems, visto em 13 de março de 2025.
4 HOBSBAWM, Eric John Ernest, A Era do Capital 1848-1875, Editorial Presença, 1988, p. 65.
5 MITCHELL, Brian R., European Historical Statistics 1750-1970, The Macmillan Press Ltd, London, 1976, p. 20.
6 PRADA, Valentin Vazquez de, História Económica Mundial, volume 2, Livraria Civilização Editora, Porto, 1994, volume 2, p. 33.
7 Efectivos apresentados em https://en.wikipedia.org/wiki/Franco-Prussian_War, com referência a CLODFELTER, Micheal, Warfare and Armed Conflicts: A Statistical Encyclopedia of Casualty and Other Figures, 1492-2015, © 2008, Jefferson, North Carolina: McFarland, 2017, p. 184.
8 PRADA, 1994, volume 2, pp. 66-69.
9 MITCHELL, 1976, conjunto dos dados estatísticos referidos no capítulo «Industry». Sobre a industrialização nesta época deve-se ler o capítulo II, «O grande boom» em HOBSBAWM, 1988, pp. 47-70 ou os dados referentes à França e à Alemanha em PRADA, 1994, volume 2, pp. 65-78.
10 MITCHEL, 1976, Tabelas G1 «Lenght on Railway Line Open», p. 581, e G2 «Freight Traffic on Railways», p. 589; em 1869, Portugal tinha construído 694 Km de linha férrea (p. 582) e só conhecemos estatísticas de transporte de mercadorias a partir de 1880 (663.000 toneladas métricas, contra 80.770.000 da França – pp. 592-593).
11 PUGH, Martin (Editor), A Companion to Modern European History, 1871-1945, Blackwell Publishers, USA, 2000, p. 26.
12 HOBSBAWM, 1988, pp. 60-63.
13 Textos em francês do acordo preliminar de paz, assinado a 26 de fevereiro, e do Tratado de Frankfurt, assinado a 10 de maio de 1871 em: http://gander.chez.com/traite-de-francfort.htm.
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