A expressão "Ducados do Elba" refere-se aos Ducados do Schleswig e do Holstein. Embora frequentemente apenas sejam referidos estes dois ducados, também o Ducado de Saxe-Lauenburg foi incluído nesta questão. Os Ducados referidos estavam unidos à Dinamarca desde 1058, 1460 e 1815, respetivamente. Na época que estamos a tratar, os anos 50 e 60 do século XIX, o Rei da Dinamarca era também o Duque de Schleswig, de Holstein e de Saxe-Lauenburg.
O Ducado de Holstein tinha uma posição feudatária relativamente ao Reino da Saxónia e assim se compreende que, ao contrário do que sucedia com o Schleswig e independentemente de quem era o seu soberano, fizesse parte da Confederação Germânica tal como antes tinha feito parte do Sacro Império Romano Germânico. O Ducado de Saxe-Lauenburg também fazia parte da Confederação Germânica por determinação do Congresso de Viena, já que este Ducado, em 1813 tinha passado a ser um domínio do Eleitorado de Hanôver, que passou a ser reino em 1814. A união deste ducado com a Dinamarca resultou de uma sucessão de trocas territoriais que englobaram Hanôver, a Prússia, a Suécia e a Dinamarca. O Schleswig tinha uma população de maioria dinamarquesa embora os alemães predominassem na região sul. O Holstein era um ducado de maioria alemã, tal como o Lauenberg. Pelas disposições do Tratado de Ribe (1460), o Schleswig e o Holstein não podiam ser separados, daí a referência frequente ao Schleswig-Holstein. No entanto, estas disposições não quebraram os laços feudais já referidos.
Frederik VII da Dinamarca reinou entre 1848 e 1863. Sucedeu-lhe Christian IX que reinou entre 1863 e 1906. A 27 de Março de 1848, Frederik VII anunciou a promulgação de uma constituição liberal que tornava o Schleswig parte integrante da Dinamarca, embora mantendo alguma autonomia. A população alemã manifestou-se contra esta integração sendo a favor da independência dos Ducados e de uma associação do "Schleswig-Holstein" à Confederação Germânica. As populações alemãs dos ducados revoltaram-se contra as decisões do Rei da Dinamarca. O exército prussiano interveio em apoio da insurreição provocando a Primeira Guerra do Schleswig (1848-1851). Durante esta guerra verificou-se um número elevado de batalhas e a Dinamarca saiu vitoriosa em muitas delas. A Suécia enviou tropas em apoio da Dinamarca que também recebeu apoio diplomático da Rússia e da Áustria. O Reino Unido ameaçou desencadear ações navais contra a Prússia. Durante o conflito foram tentadas várias tréguas que fracassaram. Por fim, de acordo com o Protocolo de Londres (8 de maio de 1852) o Schleswig e o Holstein mantiveram-se ligados à Dinamarca apenas por união pessoal. Este protocolo afirmava a integridade da federação dinamarquesa como um princípio a ser aceite por todas as Potências europeias e que os Ducados de Schleswig (um feudo dinamarquês) e de Holstein (um feudo alemão) ficariam ligados ao Reino da Dinamarca por uma união pessoal. Neste mesmo Protocolo, a Dinamarca comprometia-se a não criar com o Schleswig laços mais estreitos do que os que mantinha com o Holstein.
A situação encontrada com o Protocolo de Londres não foi definitivamente aceite pela Dinamarca. Em 1863, Cristiano IX aprovou a "Constituição de Novembro" segundo a qual o Schleswig seria integrado no Reino da Dinamarca. Isto significava separar o Schleswig do Holstein, o que contrariava o Tratado de Ribe (1460), e transformar um ducado independente em território dinamarquês o que contrariava o Protocolo de Londres. Esta foi a oportunidade que os liberais alemães aproveitaram para trazerem ambos os Ducados para a esfera alemã cortando os vínculos à Dinamarca. Contaram com o apoio popular e apoiaram a candidatura de Friedrich August von Augustenburg à herança dos Ducados já que as leis de hereditariedade daqueles e do Reino da Dinamarca eram diferentes. Tinham a intenção de criar entre as populações o entusiasmo necessário que levasse os estados alemães a apoiarem esta iniciativa. Mas esta não era a política que interessava a Bismarck porque conduziria à criação de mais dois pequenos estados que constituiriam mais um obstáculo às pretensões de hegemonia da Prússia.
Os Ducados do Elba
Apesar da aliança com a Áustria, Bismarck já tinha esclarecido que só a anexação dos Ducados justificaria a intervenção da Prússia. As tropas prussianas sob comando do Feldmarschall Friedrich von Wrangel (1784-1877), apoiadas por tropas austríacas sob o comando do General Ludwig von Gablenz (1814-1874), invadiram os Ducados no dia 1 de fevereiro de 1864 e provocaram importantes devastações, mas sem obterem resultados decisivos. Wrangel tinha já mais de oitenta anos e foram levantadas dúvidas sobre a sua capacidade para exercer o comando das tropas pelo que foi substituído pelo Príncipe Friedrich Karl da Prússia. O chefe do estado-maior da força prussiana, o General Vogel von Falkenstein (1797-1885), considerado incompetente para o cargo, foi substituído pelo General Helmuth Karl Bernhard que, a partir de 1870, foi distinguido com o título de Conde de Moltke.
Helmuth von Moltke (1800-1891), nascido numa família aristocrata de Mecklenburg (norte da Alemanha), tinha sido educado no "Real Corpo de Cadetes" em Copenhagen, Dinamarca. No final do curso ingressou num regimento de infantaria dinamarquês. Em 1821 visitou Berlim e mais tarde ingressou como tenente no Regimento (alemão) Leib-Grenadier. Frequentou a Kriegsakademie (Academia Militar da Prússia, em Berlim) entre 1823 e 1826. Em 1833 foi colocado no Estado-Maior General da Prússia. Entre 1835 e 1839 prestou serviço na Turquia. Entre as várias obras que escreveu, encontra-se um ensaio sobre a utilização dos caminhos de ferro (1834). Em 1846 regressou ao Estado-Maior General, foi promovido a coronel em 1851 e foi nomeado ajudante de campo do Príncipe Friedrich Wilhelm, futuro Rei da Prússia. Nestas funções viajou até à Grã-Bretanha, França e Rússia. Em 1857, já com o posto de general, foi nomeado Chefe do Estado-Maior General e desenvolveu uma boa relação com Bismarck e com o Ministro da Guerra, Albrecht Theodor Emil que, em 1871, seria conde (graf) de Roon.
Helmuth von Moltke estava ciente das vantagens do caminho-de-ferro e dos telégrafos nas operações militares. Os exércitos eram grandes e exigiam uma dispersão por áreas muito mais vastas e, por isso, o sistema de comando tinha de se tornar mais flexível. Foi nesta lógica que, em 1858-1859, reorganizou o Estado-Maior em quatro departamentos, três dedicados a diferentes áreas geográficas (Oriente, Alemanha e Ocidente) e outro dedicado ao caminho-de-ferro.
A Guerra dos Ducados do Elba ou Segunda Guerra do Schleswig foi curta. As tropas prussianas e austríacas entraram no Ducado de Schleswig a 1 de fevereiro de 1864. Não houve grandes batalhas e, em agosto, a Dinamarca tinha sido derrotada. Inicialmente, perante a incapacidade de defender a fronteira dos Ducados, as forças dinamarquesas retiraram para a Dinamarca. No início da guerra, os Dinamarqueses dispunham de 38.000 homens enquanto as forças invasoras, da Prússia e da Áustria, somavam cerca de 61.000. Entre 15 de Março e 17 de abril de 1864, as forças da Prússia cercaram as fortificações de Dybbøl, no sudeste da Jutlândia, Dinamarca. A captura das fortificações custou aos Dinamarqueses 700 mortos, 554 feridos e 3.834 prisioneiros. Os Prussianos perderam 1.201 homens, entre mortos, feridos e capturados. No dia 25 de Abril foi estabelecida uma trégua que terminou a 26 de junho com a renovação das hostilidades, mas a 1 de agosto a Dinamarca pediu a paz e renunciou à disputa sobre os Ducados. As Grandes Potências europeias só se manifestaram quando os exércitos invasores chegaram à fronteira do Reino da Dinamarca. No dia 30 de outubro de 1864, em Viena, foi assinado um tratado de paz.
Os Ducados ficaram assim na dependência da Áustria e da Prússia e não foram entregues a Friedrich August von Augustenburg. Para Bismarck, que desejava afastar a hegemonia austríaca e atrair os restantes Estados alemães para um processo de unificação, sob hegemonia da Prússia, a questão dos Ducados ofereceu a oportunidade para atingir os seus objetivos. A ocupação conjunta dos Ducados tornou-se uma fonte de permanente desacordo entre as duas Potências. Em 1865, Bismarck ameaçou anexar os Ducados e reorganizar a Confederação Germânica. A 14 de Agosto de 1865, na cidade austríaca de Gastein (Bad Gastein), a Áustria e a Prússia assinaram uma convenção (Convenção de Gastein) segundo a qual os Ducados deixavam de estar sujeitos a uma administração conjunta da Áustria e da Prússia e seriam divididos por estas duas potências que os administrariam. Assim, a Prússia ficava com a administração de Schleswig e a Áustria com a de Holstein. A Prússia comprava à Áustria a administração do Lauenburg. Ao mesmo tempo, a Prússia obtinha o direito de construção de infraestruturas de apoio naval, de um canal e instalação de um sistema de telégrafos.
Há muito que o Schleswig e o Holstein eram um dos principais polos do sentimento nacionalista alemão, mas o principal motivo para que Bismarck tivesse decidido entrar em guerra com a Dinamarca, foi a expansão da Prússia. O fenómeno do nacionalismo não pode, contudo, deixar de ser tido em conta em todo o processo de unificação da Alemanha. Como Bismarck já tinha afirmado, embora depois tentasse negar, a utilização da força seria o processo pelo qual atingiria os seus objetivos. A unificação viria a ser feita pelos governos, isto é, pela força militar e não por movimentos populares animados pelas ideias nacionalistas. A guerra com a Dinamarca mostrara a evolução positiva da capacidade militar da Prússia. A próxima consequência desta linha de ação seria a guerra entre a Áustria e a Prússia.
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[1] Texto do Tratado (em Inglês) em OAKES & MOWAT, The Great European Treaties of the Nineteenth Century, Oxford
University Press, Great Britain, 1930., pp. 198-209; Texto do Tratado, em Francês e Alemão, em https://web.archive.org/web/20110719132918/http://www.ambwien.um.dk/NR/rdonlyres/AB922586-4291-44C2-BFFA-0FF1424170A2/0/Fredstraktat1864.pdf, visto em 12 de março de 2025.
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