domingo, 16 de março de 2025

A Guerra Austro-Prussiana (1866)

Estabelecida a paz com a Dinamarca, a Áustria e a Prússia deviam cooperar na administração dos Ducados. Para coordenarem como essa cooperação iria ser aplicada, Guilherme I da Prússia (1797-1888) e Otto von Bismarck reuniram-se no palácio de Schönbrunn, Viena, a 23 de agosto de 1864, com o Imperador da Áustria, Francisco José (1830-1916), e o seu chanceler e ministro dos Negócios Estrangeiros Johann Bernhard von Rechberg und Rothenlöwen (1806-1899), normalmente referido apenas como Rechberg, mas não conseguiram chegar a um acordo sobre este assunto. Também foi tratada a possibilidade de adesão da Áustria ao Zollverein em 1865, ano em que seriam renovados os tratados desta união aduaneira, mas o Governo prussiano recusou a adesão da Áustria à união aduaneira. A Áustria iria continuar fora de uma união que se tornava cada vez mais política.

Esta atitude do Governo prussiano aprofundou a clivagem já existente entre as duas principais potências alemãs. Enquanto a Prússia se voltava fundamentalmente para o Mar do Norte, a Áustria voltava-se para os Balcãs e utilizava o Danúbio e o Mar Negro e, por conseguinte, os Estreitos do Bósforo e de Dardanelos como principal via de importação/exportação dos seus produtos. A Áustria e a Alemanha estavam cada vez mais de costas voltadas, tanto económica como politicamente. A aliança entre a Áustria e a Prússia estava arruinada. A questão que agora se colocava era a de haver um entendimento entre as duas potências tendo em conta as ambições da Prússia e o desejo da Áustria de manter o statu quo no âmbito da Confederação, mas o entendimento implicava aceitar a Prússia em pé de igualdade com a Áustria. «A Áustria teria de prescindir da dignidade presidencial (da Confederação Germânica), como abriu da dignidade imperial há meio século, e concluir uma aliança com o Reich (Império) Alemão prussiano.»1 No entanto, a Áustria não estava disposta a perder o seu lugar preponderante entre os Estados alemães.

Na Dieta de Frankfurt, o representante austríaco votou a favor de uma resolução em apoio da candidatura de Friedrich August von Augustenburg (1800-1865, julho, 2). Esta era uma violação da aliança austro-prussiana e dos próprios termos do Tratado de Viena (1864). A situação começava a tomar contornos que poderiam conduzir a um conflito. A Áustria queria evitar a guerra tanto mais que tinha outras questões territoriais na agenda: a Hungria e o norte da Itália. Bismarck fez bluff ameaçando utilizar a força. Seria realmente bluff? Alan John Percival Taylor, na sua biografia sobre Bismarck, defende que o chanceler considerava a guerra «uma forma desajeitada de resolver as disputas internacionais.»2 Foi neste sentido que foi assinada a Convenção de Gastein (14 de agosto de 1865) onde se definiram os territórios a serem administrados por cada uma das potências: a Áustria ficava a administrar o Holstein enquanto o Schleswig e o Lauenburgo ficavam a cargo da Prússia.

Apesar deste entendimento entre as duas Potências, a Áustria não abria mão da presidência da Confederação Germânica e, dessa forma, recusava aceitar a Prússia como uma Potência com igual estatuto. A Prússia, por seu lado, consciente da sua superioridade económica e militar, desejava libertar-se da hegemonia política da Áustria e realizar a unificação da Alemanha. Bismarck pretendia criar uma situação que levasse a Áustria a aceitar as suas exigências sem ser necessário recorrer a um conflito armado. Para isso, a Áustria teria de ficar ciente que, em caso de conflito com a Prússia, teria de enfrentar outros inimigos. Da França, onde reinava Napoleão III (1808-1873), Bismarck não obteve mais que uma garantia não escrita de neutralidade, mas já a Itália, que ainda não tinha resolvido todo o seu processo de unificação e esperava uma oportunidade para expulsar os austríacos de Venécia e os franceses de Roma, aceitou uma aliança com a Prússia (8 abril 1866). Nos termos desta aliança, em caso de guerra entre a Áustria e a Prússia, a Itália entraria também em guerra contra a Áustria. Por outras palavras, no caso de um conflito entre a Áustria e a Prússia, a Áustria não podia contar com a neutralidade da Itália mesmo que cedesse a Venécia e ver-se-ia envolvida num conflito em duas frentes. Por outro lado, só apaziguaria a Prússia cedendo a posição hegemónica na Alemanha.

A 1 de junho de 1866, a Áustria apresentou na Dieta da Confederação Germânica as questões relativas aos Ducados. Pretendiam que os representantes se pronunciassem quanto ao futuro daqueles territórios. Ora, a aliança entre a Áustria e a Prússia estipulava que as questões dos Ducados seriam tratadas entre os dois signatários, já que esta aliança também tinha sido feita à margem da Confederação. Levar a questão à Dieta de Frankfurt equivalia a repudiar os termos da aliança, o que era compreendido como um ato de hostilidade dirigida contra a Prússia. Bismarck ordenou a invasão do Holstein, o que começou a 7 de junho, mas os austríacos conseguiram retirar as suas tropas antes que se verificasse qualquer confronto. No dia 14 de junho, na sequência destes acontecimentos, os austríacos apelaram à mobilização da Confederação Germânica contra a Prússia.


Expansão do Reino da Prússia até 1866

A resposta de Bismarck foi rápida: tirou a Prússia da Confederação que declarou dissolvida e enviou um ultimato aos Estados que tinham votado ao lado da Áustria a favor da mobilização. Não houve uma declaração de guerra formal. Na luta que se seguiu «a Áustria combatia pelo primado, a Prússia pela igualdade.»3 A ofensiva prussiana contra a Áustria começou no dia 16 de junho e nela participaram o Segundo Exército prussiano, sob comando do Príncipe herdeiro Friedrich Wilhelm (1831-1888), o futuro Friedrich III da Alemanha, a partir de Landshut, cerca de 60 km a nordeste de Munique; o Primeiro Exército prussiano, sob o comando do Príncipe Friedrich Karl Nikolaus da Prússia (1828-1885), a partir da região de Görlitz, cerca de 80 km a leste de Dresden; e o Exército do Elba, sob comando do General Karl Herwarth von Bittenfeld (1796-1884), a partir da região de Torgau, cerca de 70 km a noroeste de Dresden. O Chefe do Estado-Maior General, Helmuth von Moltke, utilizou o caminho de ferro, na sua máxima capacidade, para fazer deslocar as suas tropas através da Silésia e da Saxónia. Os Austríacos ainda não se encontravam preparados para o início das hostilidades quando se estabeleceram os primeiros contactos.

No dia 3 de julho de 1866 foi travada a Batalha de Königgrätz (também conhecida como Batalha de Sadowa). Aos exércitos prussianos, com cerca de 220.000 homens, opuseram-se as forças da Áustria e da Saxónia, ao todo cerca de 115.000 homens, sob o comando do General Ludwig August Ritter von Benedek (1804-1881) e do Príncipe Alberto, futuro rei da Saxónia (1828-1902), respetivamente. A Prússia obteve uma vitória importante. Enquanto os exércitos prussianos perderam cerca de 10.000 homens, os austríacos e seus aliados perderam 25.000 homens (mortos, feridos e desaparecidos) e tiveram cerca de 20.000 prisioneiros.

Embora a Áustria tenha sido decisivamente derrotada, Bismarck não pretendeu enfraquecer mais o seu adversário. Pelo contrário, o chefe do Governo alemão queria chegar rapidamente a um acordo com a Áustria, antes que a França decidisse intervir militarmente no conflito ou que os termos da paz fossem ditados pelas principais Potências europeias (França, Rússia, Reino Unido). Do lado da Áustria, os problemas internos foram também motivo para chegarem rapidamente a um acordo que estabelecesse a paz. A 23 de agosto de 1866, foi assinado o Tratado de Praga. Nos termos deste tratado, a Prússia anexou Schleswig, Holstein, Hesse-Cassel, Hanôver, Nassau e Frankfurt. A Prússia era agora a potência dominante na Alemanha do Norte e foi este o espaço em que se formou uma nova confederação que deixava de fora os Estados da Alemanha do Sul e, definitivamente, a Áustria. Era esta a Confederação da Alemanha do Norte, uma confederação prussiana.

______________________________

1 Afirmação de Ludwig Maximilian Balthasar von Biegeleben, um dos conselheiros de Alexander Mensdorff-Pouilly, sucessor de Rechberg no Ministério dos Negócios Estrangeiros da Áustria; citado em TAYLOR, Bismarck, o Homem e o Estadista, Edições 70, 2009, p. 78. 

2 TAYLOR, 2009, p. 81.

3 TAYLOR, 2009, p. 85.

Sem comentários:

Enviar um comentário