1887
foi o ano em que era necessário renovar a Tríplice Aliança,
nascida a 20 de Maio de 1882, e o Tratado dos Três Imperadores,
renascido a 18 de Junho de 1881 e renovado pela primeira vez em 1884.
No primeiro caso, a 20 de Fevereiro de 1887, foi assinado o Tratado
que renovava a Tríplice Aliança. No segundo caso, os acontecimentos
seguiram um rumo diferente.
Naquele
ano em que devia ser renovado o Tratado dos Três
Imperadores, as rivalidades entre a Áustria-Hungria e a Rússia nos
Balcãs evidenciavam a dificuldade de coexistência daquelas
potências no mesmo sistema de alianças. Por outro lado, a França
mostrava que não desejava a aproximação à Alemanha e a questão
da Alsácia-Lorena continuava a estar na sua linha de prioridades.
Para Bismarck, o principal obstáculo a uma paz duradoura na Europa
era a vontade da França em reconquistar os territórios perdidos em
1871 e, por isso, uma ligação da Alemanha com a Rússia era
fundamental para manter a França isolada. No entanto, a não
renovação do tratado em que se baseava a Liga dos Três Imperadores
libertou a Rússia dos seus compromissos com a Alemanha. A Rússia
estava livre para uma aliança com a França o que, para a Alemanha,
representava o perigo de uma guerra em duas frentes. Com a finalidade
de manter o status quo
favorável à Alemanha, Bismarck procurou formas de reforçar
a Tríplice Aliança, manter a ligação com a Rússia e fazer entrar
o Reino Unido no seu sistema.
O
conde Robilant, ministro dos Negócios Estrangeiros italiano,
aproveitou as crises para melhorar a posição diplomática da Itália
colocando condições para a renovação da Tríplice Aliança.
Robilant queria
a garantia de que as posições
italianas no Mediterrâneo
seriam mantidas. Esta
garantia pretendia proteger da França os interesses italianos na
Tripolitana (região norte da Líbia). Também exigiu a promessa de
obter compensações no caso de a Áustria-Hungria vir a obter ou apenas administrar novos
territórios nos Balcãs. A oposição inicial da Alemanha e da
Áustria-Hungria foi ultrapassada pela evolução da crise na
Bulgária e na fronteira entre a Alemanha e a França. Bismarck
negociou com Viena que não pretendia envolver-se na questão da
Tripolitana e o resultado foi a renovação antecipada do tratado,
acompanhada de duas convenções anexas, destinadas a satisfazer as
exigências italianas.
A
primeira convenção foi assinada entre a Áustria-Hungria e a
Itália. A convenção declarava a vontade de as potências
signatárias manterem o status quo nos Balcãs mas que, no
caso de a Áustria-Hungria se encontrar na iminência de ocupar novos
territórios, a Itália seria imediatamente consultada e ser-lhe-ia
atribuída uma compensação. A segunda convenção foi assinada
entre a Alemanha e a Itália. A Alemanha comprometia-se a dar apoio
militar à Itália se, devido à expansão francesa no Norte de
África, a Itália entrasse em guerra com a França. A assinatura das
convenções foi feita em Fevereiro de 1887. Nos termos destas
convenções, a Áustria-Hungria não tinha que se
envolver na questão da Tripolitana. No entanto, o conflito de interesses nos territórios coloniais podiam accionar os termos da aliança. A Alemanha ficava ligada, por esta convenção, a entrar num conflito com origem colonial. Este facto obrigava o governo francês a agir com cautela pois a convenção germano-italiana tinha um carácter ofensivo em relação à França.
Se, por um lado, Bismarck procurou criar um sistema de alianças que mantivesse a França isolada, por outro lado, não
deixou de tentar uma aproximação franco-alemã. Se fosse possível
manter com a França uma relação estreita e cooperante, o perigo de
uma nova guerra ficava mais distante. Ao tentar essa aproximação,
Bismarck incentivou a França a lançar-se numa política colonial
mais vasta. Procurava com esta política que a França
dirigisse o seu esforço e atenção para longe da Alsácia-Lorena. A
sua convicção de que esta política permitiria ultrapassar as
divergências entre as duas potências era genuína? Bismarck afirmou
que era necessário «que a Grã-Bretanha se habitue à ideia de que
uma aliança franco-alemã não é impossível.». No entanto, não só os Franceses, desconfiados das intenções
do chanceler alemão, não desejavam uma aproximação que
implicasse aceitar tacitamente o abandono da Alsácia-Lorena como,
sabemos hoje, Bismarck pretendia evitar uma aproximação entre a
França e o Reino Unido. Numa nota por ele escrita, pode-se ler que é
preciso «tratar bem os desentendimentos entre a França e a
Grã-Bretanha.»
A
7 de Janeiro
1886,
Charles
de Freycinet
assumiu
o cargo de primeiro-ministro francês tendo o general Boulanger como
ministro da guerra. Boulanger apelou à
vingança contra a Alemanha e ficou conhecido como Général
Revanche.
No Estado-Maior francês instalou-se um ambiente claramente
anti-alemão. Esta atitude do ministro
da guerra francês inquietou tanto os Alemães como os outros membros
do governo francês que, no entanto, não foi remodelado. Na Alemanha
foi votada uma nova lei militar, foram convocadas tropas da reserva e
foram tomadas medidas contra os habitantes da Alsácia-Lorena que se
mostravam rebeldes à germanização do território. Bismarck deixou
claro que, se a Ligue
des Patriotes,
que apoiava Boulanger, chegasse ao poder em França, a Alemanha
tomaria a iniciativa da guerra.
Esta
situação foi agravada pelo “caso Schnaebelé”. Este era
comissário da polícia em Pagny-sur-Moselle, na
parte ocidental da Lorena que não foi integrada no Império Alemão,
e era também um agente dos serviços de informações franceses. Os
Alemães detectaram as suas actividades e, em Abril de 1887, um grupo
de polícias alemães entrou em território francês, prendeu
Schnaebelé e levou-o para território alemão. Ao ser divulgada esta
notícia, a opinião pública francesa exigiu que o governo tome uma
atitude imediata. Boulanger aproveitou a situação para propor uma
mobilização parcial das tropas na região mas esta medida foi recusada no conselho de ministros de 23 de Abril porque poderia
desencadear uma guerra. A libertação de Schnaebelé foi ordenada
por Bismarck a pedido do embaixador francês em Berlim. Para a
opinião pública francesa, o que aconteceu foi uma provocação da
parte da Alemanha com o objectivo de desencadear uma guerra. Os
apoiantes de Boulanger entenderam que foram as declarações
agressivas do ministro que fizeram recuar os Alemães. No entanto, em
Maio de 1887, Boulanger foi afastado do governo o que agradou a
Bismarck. Este, entretanto, aproveitou a crise para obter do
Reichstag
mais recursos militares.
Ultrapassada
a crise franco-alemã, Bismarck considerou que o acordo conseguido
entre a Alemanha e a Itália podia conduzir facilmente a um conflito com a França. A sua solução continuou a passar pelo reforço do sistema de alianças por forma a manter o isolamanto da França e, desta forma, tentou envolver o Reino Unido na questão. A
França e a Inglaterra encontravam-se em conflito (não armado) por causa do Egipto.
Perante esta situação, Bismarck pressionou a diplomacia italiana
para apresentar propostas a Londres no sentido de obter o apoio
britânico contra a França. Ainda em Fevereiro de 1887, foi assinado
um acordo anglo-italiano no qual a Itália se compromete a apoiar a
acção do Reino Unido no Egipto. Por seu lado, o Reino Unido
comprometia-se a ajudar a Itália a opor-se à ocupação da Tripolitana pelos Franceses. A Itália e o Reino Unido
comprometeram-se também a manter o status quo no Mediterrâneo
(incluindo o Mar Egeu e o Mar Negro) e, nessa impossibilidade, comprometiam-se a negociar as
alterações a introduzir.
Os
compromissos britânicos eram muito vagos porque não especificavam
qual o tipo de ajuda que o Reino Unido prestaria à Itália. Nada
obrigava a que essa ajuda tivesse um carácter militar. Salisbury entendia que a
situação seria analisada quando necessário e então seria tomada a
decisão de apoiar ou não militarmente a Itália. O acordo
anglo-italiano também tinha uma cláusula contra a Rússia: afirmava
mais uma vez o princípio do fecho dos estreitos (Bósforo e Dardanelos). A Áustria-Hungria
associou-se a este acordo a 24 de Março de 1887. Em Maio, a Espanha também aderiu ao acordo. Bismarck não subscreveu o acordo para
manter a abertura necessária a negociações com a Rússia.
O czar, preocupado e descontente com os progressos
da Áustria-Hungria nos Balcãs, manifestou a intenção de não
renovar, em Junho de 1887, o Tratado dos Três Imperadores. Pelo seu
lado, a França desenvolveu acções de aproximação à Rússia onde
as propostas francesas começam a encontrar um acolhimento favorável.
O movimento pan-eslavista mostrava-se favorável a uma aproximação
com a França. No entanto, Alexandre III tinha uma desconfiança
demasiado grande em relação ao regime republicano e deu carta
branca ao seu chanceler, Giers, para negociar com Bismarck. Em Junho
de 1887, o ministro russo assinou com a Alemanha um tratado secreto,
designado “Tratado de Resseguro”, válido por três anos. Nos
termos deste tratado, a Alemanha e a Rússia garantiam uma à outra a
neutralidade em caso de guerra com uma terceira potência, a menos
que a Alemanha atacasse a França ou a Rússia atacasse a
Áustria-Hungria. Desta forma, a Alemanha ficava garantida contra uma
guerra em duas frentes, contra a França e a Rússia. Este acordo também mostra que Bismarck não tinha intenção de desencadear uma guerra contra a França. A Rússia evitava desta forma uma guerra simultânea contra a
Áustria-Hungria e a Alemanha. Ficava
também estabelecido que a Alemanha não apoiaria a Áustria-Hungria
se esta pretendesse expandir-se à custa da Rússia.
Por
insistência do czar, com a finalidade de fugir ao julgamento da
opinião pública, o tratado foi mantido secreto. Mas existiam outras
razões para este secretismo que interessavam principalmente à Alemanha. Este tratado
dificilmente seria bem aceite pela Áustria-Hungria, aliada da
Alemanha na Tríplice Aliança. Além disso, juntamente com o tratado, foi assinado um documento em que Bismarck prometia ajudar a aumentar
a influência russa na Bulgária e não interferir com uma tentativa
russa de se apoderar de Constantinopla. Neste último caso, seria
certo um confronto entre a Rússia e o Reino Unido.
Com este tratado, Bismarck criou um sistema de alianças no qual a Alemanha se encontrava ligada à Áustria-Hungria e à Itália (Tríplice Aliança), ligada ao Reino Unido pelos acordo de Fevereiro de 1887 e à Rússia pelo Tratado de Resseguro (Junho de 1887). Este sistema representava, no Verão de 1887, o máximo isolamento da França. No entanto, trava-se de um sistema que podia ser ameaçado por alguma indiscrição que revelasse os termos do Tratado de Resseguro pois este era um tratado que, de alguma forma, punha em causa o apoio da Alemanha à Áustria-Hungria. Bismarck tinha consciência da fraqueza deste sistema e, em 1889, pensou substituir o acordo com a Rússia por uma aliança defensiva com o Reino Unido, dirigida contra a França e a Rússia. O ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Herbert, filho de Bismarck, deslocou-se a Londres mas não conseguiu estabelecer o acordo e, em Outubro de 1889, propôs à Rússia a renovação do Tratado de Resseguro. Alexandre III aceitou a renovação do acordo, principalmente por recear ver Berlim apoiar incondicionalmente a política balcânica da Áustria-Hungria.
Bismarck, em confronto com o novo imperador, Guilherme II, apresentou a sua demissão em Março de 1890. Considerando o Tratado de Resseguro como desleal porque era contrário ao espírito da Tríplice Aliança, Guilherme II recusou a sua renovação em 1892. ao tomar esta atitude, o imperador alemão e o seu chanceler iniciavam o abandono do sistema de alianças de Bismarck. Porquê esta mudança de política? Kissinger aponta três razões: primeiro, tratou-se de simplificar a política externa da Alemanha, construída por Bismarck, para a qual os novos governantes não se encontravam à altura de prosseguir; segundo, eles desejavam assegurar à Áustria que os termos da Tríplice Aliança constituíam a primeira prioridade; terceiro, consideravam que o Tratado de Resseguro constituía um obstáculo a uma futura e desejável aliança com o Reino Unido. À política de Bismarck, que procurou isolar a França e impedir a construção de possíveis coligações contra a Alemanha, seguiu-se uma política em que a própria Alemanha se isolou restringindo as suas opções à Tríplice Aliança. Não existindo obrigações entre a Alemanha e a Rússia, a Áustria-Hungria sentia maior liberdade para aumentar a sua influência nos Balcãs. A Rússia ficava liberta para se aliar com a França.
Sem comentários:
Enviar um comentário