O
Tratado de Frankfurt, assinado a 10 de Maio de 1871 pelos
representantes da França e da Alemanha, tornava oficial o fim da
Guerra Franco-Prussiana (1870-1871). Este tratado estabelecia as condições
impostas pela potência vencedora, o Império Alemão, à potência vencida,
a Terceira República Francesa. Dos seus
dezoito artigos, importa realçar o seguinte:
- A França renunciava a favor da Alemanha aos territórios da Alsácia e parte da Lorena;
-
A França pagaria à Alemanha uma indemnização de cinco biliões de francos e os Alemães manteriam em território francês tropas de ocupação, até essa indemnização estar liquidada.
O
Tratado de Frankfurt entrou em vigor no dia 20 de Maio de 1871, após
a troca de ratificações pelos respectivos governos. A perda dos
territórios da Alsácia-Lorena deixou nos Franceses um sentimento de
revanche
que iria
permanecer nos seus espíritos por muito tempo. A indemnização foi
paga mais cedo do que o previsto e as últimas tropas alemãs de
ocupação saíram de França a 16 de Setembro de 1873.
A
LIGA DOS TRÊS IMPERADORES
A
vitória dos estados alemães na Guerra Franco-Prussiana e a
proclamação do Império Alemão estabeleceram um status
quo favorável
à Alemanha. Nas duas décadas que se seguiram, a Alemanha iria ter um papel preponderante entre as Grandes Potências. Berlim tornou-se o centro da actividade diplomática europeia. Os governantes alemães, Guilherme I, o seu imperador,
ou Otto von Bismarck, o seu chanceler, não pretendiam a expansão na
Europa. Bismarck procurou a estabilidade na Europa. Além disso, a necessidade de consolidar internamente o
Império não aconselhava a participação em "aventuras"
coloniais. No entanto, Bismarck estava convencido que a França não
iria conformar-se com a perda dos territórios na fronteira
franco-alemã, a Alsácia-Lorena, e que, se surgisse a oportunidade,
procuraria recuperá-los. Perante este cenário, o chanceler alemão tentou constantemente manter a França isolada para que, não
obtendo o apoio de outras potências, ela não conseguisse reunir as
condições para atacar a Alemanha. Esta foi a preocupação de
Bismarck pois se a Alemanha queria manter o status
quo e
evitar a possibilidade de um ataque a partir da França, necessitava
manter esta potência isolada e atrair para o seu campo
as outras
potências, estabelecendo a sua rede de alianças.
Guilherme I da Alemanha
Imagem disponibilizada pela Wikipédia
A aproximação mais fácil foi feita com a Áustria. A vitória da Prússia na Batalha de Königgrätz (ou de Sadowa), a 3 de Julho de 1866, mostrou aos Austríacos que a sua hegemonia sobre os Estados alemães tinha chegado ao fim, o que veio a ser confirmado, poucos anos mais tarde, com a proclamação do Império Alemão. Os termos da paz, estabelecidos pelo tratado que ficou conhecido como Paz de Praga, assinado a 23 de Agosto de 1866, não penalizaram demasiado a Áustria e, assim, foi mais fácil para o imperador Francisco José aceitar um bom relacionamento com o Império Alemão e visitar Berlim em Setembro de 1872. Na mesma altura, Alexandre II da Rússia também se deslocou à capital alemã. Não existindo um contencioso entre a Alemanha e a Rússia e tendo estabelecido um bom relacionamento com a Áustria, foi mais fácil para Bismarck que os soberanos daquelas potências aceitassem um acordo.
Os
três imperadores reuniram-se em Berlim, o que foi
entendido como
uma forma de mostrarem coesão contra os movimentos revolucionários.
Para as restantes potências europeias tratava-se de uma demonstração
de solidariedade
conservadora que aparecia um pouco deslocada no tempo pois a
Primeira
Internacional acusava já os efeitos das disputas entre Marxistas e
Anarquistas, mostrava divisões irreconciliáveis e acabaria por ser
extinta em 1876. A Primeira Internacional já não estava, pois, em
condições de lançar movimentos revolucionários de natureza a
causar preocupações aos governos mais conservadores. Na realidade,
esta ligação entre os três imperadores, que era obra de Bismarck,
tinha como
principal objectivo o isolamento da França.
No entanto, existia um problema difícil de solucionar: a Áustria-Hungria pretendia expandir-se para os Balcãs enquanto os Russos se consideravam protectores dos povos eslavos daquela região (Croatas, Eslovenos, Bósnios, Montenegrinos, Sérvios, Macedónios). Sendo assim, havendo a possibilidade de um conflito de interesses nos Balcãs, porque haveria a Rússia de se juntar à Alemanha e á Áustria-Hungria? Bismarck convenceu Alexandre II com o argumento da solidariedade monárquica, a fim de garantirem a estabilidade na Europa, estabilidade que podia ser posta em causa por uma França republicana, revolucionária e agressiva.
Deste encontro em Berlim, o único em que se reuniram os três imperadores, não resultou nenhum documento escrito mas os soberanos assumiram um compromisso de solidariedade entre si. Foi este compromisso que ficou conhecido como Liga dos Três Imperadores. Esta solidariedade implicava que a Áustria-Hungria não provocaria nem apoiaria qualquer levantamento na Polónia contra a Rússia (em 1795, a terceira partilha da Polónia fez desaparecer este país do mapa político da Europa e os seus territórios foram partilhados pela Rússia, Prússia e Áustria), nem a Rússia provocaria ou apoiaria alguma acção dos eslavos dos Balcãs contra a Áustria-Hungria (esta potência incluía nos seus territórios um vasto conjunto étnico - Alemães, Húngaros, Checos, Eslovacos, Polacos, Ucranianos, Eslovenos, Croatas, Sérvios, Romenos e Italianos - do qual constavam alguns dos povos eslavos dos Balcãs).
Czar Alexandre II da Rússia
Imagem disponibilizada por
Em Maio de 1873, Guilherme I visitou São Petersburgo e, em Junho desse ano, Alexandre II visitou Viena. Helmuth von Moltke, Chefe do Estado-Maior General Alemão, fazia parte da comitiva de Guilherme I e reuniu-se com o Marechal de Campo Friedrich Wilhelm Rembert von Berg, membro do Conselho de Estado russo desde 1866. Desta reunião resultou uma convenção militar, assinada por Moltke e por Berg, a 6 de Maio de 1873, segundo a qual cada uma das potências enviaria 200.000 homens para ajudar a outra potência se essa fosse atacada. Esta convenção, que nunca foi utilizada, não teve o apoio de Bismarck. Das reuniões em São Petersburgo não resultaram quaisquer outros acordos. Já em Viena, Alexandre II firmou um acordo político com Francisco José. Este acordo, assinado a 6 de Junho, que mais tarde recebeu a aprovação de Guilherme I, estipulava que, se alguma questão ameaçasse dividir as três monarquias, os monarcas deviam manter um sistema de consultas mútuas por forma a resolver as questões em aberto.
Estabelecidos
estes acordos e sendo do conhecimento das outras potências, é
natural ser analisada a situação e levantadas algumas hipóteses de
acção. Uma das hipóteses era se, para além do isolamento a que a
França ficava votada, existiria o perigo de a Alemanha se sentir com
mãos livres para atacá-la? A 8 de Setembro de 1872, em Berlim,
quando os três imperadores ali se reuniram, Alexandre II recebeu o
embaixador francês na Alemanha e assegurou-lhe que a Rússia não se
juntaria a nenhuma outra potência que, por qualquer forma, agisse
contra a França. Alguns dias depois, o chanceler do Império Russo,
Alexandre Miguel Gorchakov, chegou a afirmar que «a Europa necessita
de uma França forte.» A Liga dos Três Imperadores tinha unido a
Alemanha, a Áustria-Hungria e a Rússia e, desta forma, afastava
esta última potência de uma aliança com a França. No entanto, as
afirmações do imperador russo e do seu chanceler revelavam que, se
não estavam interessados em apoiar uma guerra da França contra a
Alemanha, também não desejavam que a Alemanha se sentisse livre
para se expandir na Europa ou que a Áustria sentisse a mão livre
nos Balcãs. Uma França forte ajudaria a manter o equilíbrio na
Europa. Seja como for, o objectivo de Bismarck foi conseguido pois a
França não encontraria na Rússia um aliado para atacar a Alemanha.
Durante
a vigência da Liga dos Três Imperadores surgiram crises que
evidenciaram as suas vulnerabilidades e acabariam por
lhe pôr termo em 1878. A primeira crise surgiu entre as Alemanha e a
França, em 1875, e foi superada com a evidência que a França não
estava tão isolada quanto Bismarck pretendia. A segunda crise, que
se arrastou de 1875 a 1878, surgiu devido a conflitos de interesses
entre a Áustria-Hungria e a Rússia nos Balcãs e incluiu a Guerra
Russo-Turca de 1877-1878. Esta última crise levou à dissolução da
Liga dos Três Imperadores que viria, pelos esforços de Bismarck, a
assumir uma forma mais formal em 1881.
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