Os Turcos, perante a desunião mostrada pelas Grandes Potências, recusaram pôr fim ao conflito. O Conselho Imperial russo, reuniu em Livadiya, na Crimeia, a 15 de outubro de 1876, e decidiu uma mobilização parcial do exército. No dia 4 de novembro, Frederick Arthur Stanley (1841-1908), Conde de Derby, Financial Secretary para o War Office, sugeriu uma conferência a realizar em Constantinopla para elaborar um novo esquema de reformas para o Império Otomano, o que mereceu o acordo das outras Potências. O Governo otomano aceitou com grande relutância a realização da conferência, depois de Lord Derby ter deixado claro que a alternativa seria uma guerra entre a Rússia e o Império Otomano, ficando este por sua conta. O Czar tinha tornado público que a Rússia agiria por sua conta se as Potências não chegassem a acordo em Constantinopla e o Governo otomano não apresentasse garantias de que as reformas seriam realizadas.
A Conferência de Constantinopla foi realizada de 23 de
dezembro de 1876 a 20 de janeiro de 1877. Participaram os representantes do
Reino Unido, Alemanha, Áustria-Hungria, França, Rússia, Itália e Império
Otomano. Nas primeiras semanas de dezembro foram realizados encontros
preparatórios para a Conferência, dos quais os representantes turcos foram
excluídos. As decisões tomadas nas reuniões preparatórias foram as seguintes[1]:
- A Bósnia e a Herzegovina seriam unidas numa única província, sendo o governador nomeado pela Porta (designação do Governo Otomano), embora necessitando do consentimento das Grandes Potências;
- A Sérvia e o Montenegro receberiam pequenos ganhos territoriais, mas este projeto não previa nenhuma saída para o mar; O sul da Herzegovina seria anexado ao Principado do Montenegro.
- A Bulgária tornar-se-ia num Estado autónomo em que a fronteira sul deveria ser traçada entre Adrianópolis (atualmente Edirna, Turquia) e Monastir (atual Bitola, Macedónia), e o novo Estado deveria ser dividido em duas províncias: oriental, com capital em Tarnovo, e ocidental, com capital em Sofia. As Grandes Potências apresentaram uma proposta legislativa sobre a organização administrativa do território, impostos e supervisão internacional para a verificação da aplicação das medidas acordadas.
No dia 23 de dezembro, na abertura da primeira sessão
plenária, os delegados foram surpreendidos pelo anúncio de uma nova
Constituição do Império Otomano, com um carácter liberal. As decisões que as
Grandes Potências queriam impor pareciam agora desajustadas da realidade. A 18
de janeiro de 1877, em Constantinopla, um "conselho de notáveis", que
incluía os representantes das comunidades cristãs, votou quase unanimemente
contra a aceitação das decisões das Grandes Potências. Estas, desunidas, não
conseguiram levar o Governo turco a aceitar as suas decisões. Os Franceses, por
seu lado, aproveitaram a oportunidade para estreitarem as relações com a Rússia
e o Reino Unido. Bismarck desenvolveu esforços para se manter perto da
Áustria-Hungria e do Reino Unido. A primeira consequência desta desunião foi a
de as Grandes Potências acabarem por alterar as suas propostas no sentido de
atraírem o Governo turco, mas este continuou a opor-se às decisões tomadas na
Conferência e, no dia 20 de janeiro de 1877, esta deu os trabalhos por
terminados sem ter atingido os seus objetivos. A situação ainda se agravou mais
quando, a 5 de fevereiro, foram feitas remodelações no Governo Otomano e este
se tornou mais conservador e mostrou maior antagonismo às propostas das Grandes
Potências.
A Rússia insistiu em obrigar a Turquia a desmobilizar e a aceitar um programa de reformas cuja execução seria controlada pelas Grandes Potências. Tanto a Áustria-Hungria como o Reino Unido insistiram na desmobilização das forças russas antes de ser assinado qualquer acordo. Por iniciativa da Rússia, as negociações continuaram, apesar de encerrada a Conferência, e as Grandes Potências chegaram a um acordo de que resultou um protocolo assinado a 31 de março em que exigiam a desmobilização das forças turcas. A 9 de abril, os termos do protocolo foram rejeitados pelo Sultão.
[1]
ANDERSON, The Eastern Question, 1978, p. 191.
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